O dedo de Bolsonaro por trás da comemoração patológica do assalto sofrido por Maria do Rosário. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 28 de dezembro de 2017 às 13:06
O vereador Bavaresco, que lamentou o fato de Maria do Rosário não ter sido estuprada, exibe foto de seu guru

 

O carro de Maria do Rosário, roubado na noite de quarta-feira (27/12) em Porto Alegre, foi encontrado na manhã seguinte pela polícia.

Estava abandonado no bairro Morro Santana, a três quilômetros da região de Chácara das Pedras, de onde foi levado. 

O assalto ocorreu por volta das 19h em frente à casa dela. A deputada federal do PT e o marido foram abordados por três homens armados quando saíam para viajar. Ninguém ficou ferido. 

Embora o veículo tenha sido recuperado, a dignidade de muitos brasileiros foi definitivamente para o buraco.

Faz um tempo que não é razoável se surpreender com mais nada no país. Mas, mesmo assim, conseguimos galgar parâmetros — nas palavras do saudoso Sebastião Lazaroni — de incivilidade e estupidez.

Um vereador de uma cidade do Rio Grande do Sul chamado Clóvis Bavaresco, do PP, foi às redes sociais lamentar o fato de ela não ter sido violentada.

“Não a estupraram com violência? Não mataram nenhum parente dela?”, escreveu nas redes sociais. “Que pena! Ela deveria sofrer na carne!”

A lógica pervertida desse pessoal é que Rosário, ex-ministra do Direitos Humanos, defende bandidos e, portanto, não tem do que reclamar.

Mais do que isso: não poderia chamar as autoridades competentes e o desfecho justo do episódio seria a morte dessa “comunista”. É hipocrisia.

Não faz o menor sentido, mas não é disso que se trata. A questão, descontada a burrice, é puro ódio.

Rosário tornou-se a vítima preferencial de todo tipo de boçal de extrema direita desde que processou o guru deles, Jair Bolsonaro, e ganhou.

O dedo de Bolsonaro está em cada doente que a ataca. O vereador Bavaresco é bolsonarista e estampa com orgulho fotos de seu líder.

Imagens de Bolsonaro ilustram milhares de piadas com a parlamentar no Facebook. Bolsonaro é a legitimação dos instintos mais primitivos dessa turma. Ele fala por eles. E vice versa.

No espetacular documentário “Arquitetura da Destruição” (disponível no YouTube), o cineasta sueco Peter Cohen descreve a simbiose entre Hitler e os alemães sob o nazismo.

“No palanque, ele encarnava o mito do ‘corpo’ da Alemanha, cujo sistema circulatório era a massa que o aplaudia com devoção”, afirma Cohen.

A canalha que torce pela morte de Maria do Rosário é parte do sistema circulatório de Jair Bolsonaro.