O destino de Maíra, que ganhou de presente uma viagem no avião do dono do Emiliano. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 16 de março de 2017 às 14:23
Maíra Panas
Maíra Panas

 

No WhatsApp, Maíra Panas deixou a mensagem, que ainda se pode ler como status: “Em SP até quinta.” Na quinta (ontem), ela deixou a cidade no avião do milionário Carlos Alberto Fernandes Filgueiras, juntamente com a mãe e o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki. O destino: a ilha particular de Filgueiras, em Paraty. No caminho, fim do sonho para essa jovem de 23 anos que transbordava vida em sua página no Facebook.

Maíra é do Mato Grosso e a mãe, Maria Hilda, mora em Juína, a 750 quilômetros da capital Cuiabá. No dia 28 de dezembro, Maíra foi para a casa da mãe, conforme registrou em sua página, acima da foto de uma mala de viagem: “Cheirinho de Minha Terra! Mato -Grosso. … cheguei!” 127 curtidas e reações, doze comentários.

No penúltimo dia de 2016, publicou uma foto do sol sob nuvens e se definiu: “Eu tenho casa, mas não tenho lar. Não me permito ficar muito tempo por onde passo, estou sempre de passagem. Minha distância, esta frieza, é apenas um mecanismo de defesa contra o estranho e angustiante. Dentro sou areia e vento. Sou cigana de partida, nunca de chegada. Meu único planejamento será não planejar.”

No dia 4 de janeiro, ela mostrou a seus quase 5 mil amigos da rede social a tatuagem que mandou fazer. É um lobo (ou loba) com cocar, que ocupa da metade superior da coxa esquerda até acima da cintura. Na foto, ela aparece com o tatuador. Escreve: “Enfim Trabalho finalizado… Crédito ao profissional João Carlos Zaniolo pela Arte e Paciência! #momentonamorandoacria#.” 440 curtidas e reações e 28 comentários.

Segundo parentes, Maíra começou a trabalhar como massoterapeuta do empresário Carlos Alberto Fernandes Filgueiras, dono do Hotel Emiliano, há seis meses. A mãe de Maíra, Maria Hilda, estava de férias e foi visitar a filha. Ela havia chegado a São Paulo há uma semana.

“Foi aniversário dela (Maria) no domingo (15/1). A Maíra comentou com o Sr. Carlos e ele decidiu dar a viagem a Paraty de presente”, contou a advogada Janaína Braga de Almeida, amiga de infância de Maíra e cunhada de Kelly, irmã da massoterapeuta, conforme publicado pelo site Metrópoles, do Distrito Federal.

No Facebook, Maíra também anunciou em meados do ano passado um negócio próprio: a venda de sucos Detox e deixou o celular para receber encomendas. Era professora de dança e fazia apresentações de dança do ventre – em junho do ano passado, esteve no estúdio Akros, na Mooca, São Paulo.

Uma de suas últimas publicações foi um vídeo que a mostra dançando a dança do ventre, quando tinha 16 anos de idade. “Aí você encontra aquele vídeo Relíquia e morre de saudades…”, comentou.

Não gostava de políticos:

“Hoje eu não vou reclamar. Não vou dar moral para hipócritas, políticos corruptos, ou modinhas. Não quero saber dos falsos ou mentirosos e, muito menos, daqueles que medem as pessoas pela grana ou carro que possuem. Hoje eu só quero poder olhar para o lado e ter o discernimento de perceber que existem pessoas enfrentando dificuldades muito maiores do que as minhas e, com isso, me sentir feliz pela vida que eu tenho, e por poder expressar a minha gratidão por tudo que eu já conquistei.”

Não escondia o amor pela mãe:

Saudades, mãe. A única que não importa a circunstância. . Tempo… ou dificuldade… continuará comigo. Porque o preço a pagar pelas pessoas erradas é muito alto… mas o preço de ter você em meu coração todos os dias onde quer que esteja… é impagável… é inestimável. Porque mãe não tem data de comando… mãe é o Deus de cada um. E ponto final.
Te amo demais”

O último post dela é um desabafo. Ao que parece, teve as sacolas com compras roubadas em São Paulo, e escreveu:

“Nada que se constrói sobre base destrutiva te dará alguma recompensa. O que vem fácil vai fácil. Lei da vida.”

Eram 46 minutos da madrugada de quinta-feira, 19 de janeiro. Onze horas depois, ela morreu, ao lado da mãe, do empresário Carlos Filgueiras e do ministro Teori Zavascki. As primeiras pessoas que chegaram ao local do acidente viram uma pessoa viva. Era Maíra.

Ela batia na janelinha, lutando pela vida. Não houve tempo para salvá-la.

 

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