O espetacular fiasco da capa da Época que prometia o fim da República. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 23 de junho de 2015 às 9:24
O Kim Kataguiri do jornalismo
O Kim Kataguiri do jornalismo

Quando cheguei à Editora Globo como diretor editorial, em 2007, topei com uma coisa que jamais imaginara ver na carreira.

A Época era a campeã de reclamações no Procon por causa de uma promoção em que prometia – ia escrever dava, mas não era bem o caso – um dvd para quem a assinasse.

Emails de queixas transbordavam dos canais normais da editora – assinatura etc – e, sem resposta, acabavam chegando aos editores.

Foi uma das maiores trapalhadas que presenciei no jornalismo e no mundo corporativo como um todo.

A Globo simplesmente não conseguia entregar os dvds, por conta de um planejamento esdrúxula e uma logística ainda pior.

E em vez de leitores tínhamos, na revista, compradores de dvs. Nas pesquisas com leitores, era constrangedor constatar que eles não liam a revista: simplesmente a recebiam por causa do brinde.

Por trás da operação estava o bom, o competente Fred Kachar, hoje diretor geral da editora e responsável por administrar a agonia dos títulos da casa.

Bem, lembrei dos dvds não entregues por causa da edição da semana passada.

A Época prometia, desta vez, não dvds, mas uma coisa muito maior: o fim da República, por conta da prisão do dono da Odebrecht.

Ele supostamente contaria tudo e a República acabaria.

O pobre leitor da Época passou o final de semana contando para os amigos que a República chegaria ao fim na segunda. E eis que não acontece nada senão uma reação fortíssima da Odebrecht que bate, como jamais ocorrera até aqui, nos fundamentos da Lava Jato.

Antes, a revista não entregou os dvds. Agora, sonegou o fim da República.

Os leitores deveriam se dirigir, de novo, ao Procon.

A sonegação virou, merecidamente, piada na internet.

Mas o bonito foi ver a reação do editor da Época, o Kim Kataguiri do jornalismo, Diego Escosteguy.

No Twitter, onde passou a fazer militância antipetista em vez de jornalismo, ele se manifestou, depois do fiasco, como um Napoleão das notícias.

Se a República de fato houvesse caído, ele não poderia estar mais autocongratulatório do que está.

Postou uma foto de Lula na Odebrecht, como se isso fosse revelador. Você encontra foto de toda a elite política na Odebrecht, ou na companhia de seus donos.

Disse que pegou o apelido de Brahma para Lula. Ora, quem não tem apelido?

Vou dar uma informação a ele. Na Editora Abril, seus patrões, os irmãos Marinhos, eram chamados por Roberto Civita de Três Patetas.

Uma vez, na saída de uma reunião do Conselho Editorial da Globo, José Roberto Marinho correu até mim, incomodado, para me perguntar se era verdade que Roberto Civita os chamava de Três Patetas.

Escosteguy é um exemplo da miséria jornalística que tomou as grandes empresas de mídia na louca cavalgada para derrubar o PT.

Você ascende não pelo talento, mas pela disposição em promover um valetudo contra o PT. A competência exigida é apenas esta – o antipetismo incondicional.

A Época conseguiu, por exemplo, publicar uma pesquisa no começo do segundo turno de um certo Instituto Paraná de acordo com a qual Aécio já estava eleito, tamanha a diferença que estabelecera.

Os assinantes minguam, as vendas em bancas minguam. Mas isso não é problema para Escosteguy, assim como o Ibope pavoroso não é problema para Ali Kamel.

Deles não se espera qualidade e nem a audiência que só a qualidade traz.

São pagos para matar.

Se um dia perderem o emprego será por terem fracassado nisso – matar o PT.