O estranho caso dos vários nomes do fundador do Movimento Brasil Livre. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 14 de agosto de 2015 às 15:32
Renan Antônio/Henrique/Haas, do MBL
Renan Antônio/Renan Henrique/Renan Haas, do MBL

 

O MBL, Movimento Brasil Livre, ganhou, há meses, um garoto propaganda que lhe emprestou visibilidade por seu, vá lá, exotismo: Kim Kataguiri, o jovem de 19 anos que liderou uma imortal caminhada de São Paulo a Brasília.

Kataguiri divide a liderança e a fundação com um rapaz de 31 anos chamado Renan. Formado em advocacia na USP, Renan se define como “microempresário”.

Foi ele o autor do vídeo em que ameaçava processar o jornalista Ilimar Franco e sugeria que houvesse censura na “produção”. Ficou aparentemente ofendido porque Ilimar disse em sua coluna no Globo que havia nazistas nas manifestações.

Renan não tem o mesmo, vá lá de novo, carisma do chegado Kataguiri, mas dá recados sobre o impeachment, os petralhas, as esquerdas, a corrupção, a carga tributária, o bolivarianismo, a corrupção, a corrupção etc no site oficial e na página no Facebook.

Mas Renan tem uma peculiaridade: não existe só um Renan. Há vários, com diferentes grafias.

O nome completo é Renan Antônio Ferreira dos Santos. No entanto, assinou como Renan Henrique Ferreira dos Santos um artigo na Folha de S.Paulo. No Facebook, ainda, assina Renan Haas, com uma descrição enigmática: “eu sou eu?”

Como Renan Antônio, surge como um dos signatários de um pedido de impeachment entregue a Eduardo Cunha. O Renan Henrique é co-autor do artigo.

Por que alguém usaria outros nomes? Uma explicação é a necessidade de se esconder.

Uma pesquisa no Diário Oficial de SP aponta a existência de ao menos 27 processos envolvendo Renan Antônio como pessoa física e empresas das quais ele foi, ou é, sócio.

A família de Renan Antonio/Henrique/Haas é conhecida em Vinhedo, cidade a 75 quilômetros de São Paulo repleta de condomínios de alto padrão. No ano passado, a Câmara Municipal o homenageou, juntamente com outros companheiros, pelo “Movimento Renova Vinhedo”.

Trata-se de uma tentativa de think tank que se define assim: “Inspirados por idéias libertárias, buscamos fugir do lugar comum dos conceitos ultrapassados da velha política, buscando soluções modernas e eficientes para os problemas do município.” Têm uma “parceria” com o Instituto Liberal de São Paulo.

O MBL vive, segundo ele e Kataguiri, de doações. Vendem camisetas e outros acessórios. Dependendo do interlocutor, falam que arrecadam 10 mil ou 7 mil reais por mês. O escritório que aparece nos vídeos do grupo ocupa um andar numa região central de São Paulo. Num trabalho recente, videomakers dão dicas de como usar uma nova ferramenta para imprimir cartazes dos protestos.

Renan afirma que faz uma “revolução de quem trabalha e paga impostos, do pipoqueiro ao cara da classe média tradicional”. Impostos são uma questão. Quanto ao trabalho, não se pode afirmar que seja uma característica de um pessoal que se dá ao luxo de ficar 30 dias andando e mais outros tantos acampado na frente da casa de Eduardo Cunha.

O MBL tem um site bacaninha, com design moderno. Na home, duas coisas se destacam: primeiro, a ilustração dos três principais líderes — Kataguiri, Fernando Holiday (“o negro que mais odeia negros no Brasil”, segundo nosso colunista Marcos Sacramento) e ele — Renan apenas Santos.

Em segundo lugar, há um tal “Portal Transparência”, para você acompanhar “os gastos e recebimentos”. Sintomaticamente, esse link não abre, e não adianta clicar.

Embora se declare apartidário, ou algo que o valha, ele aparece em lista do TSE de filiados e ex-filiados do PSDB. Teria saído em março de 2015 (http://www.tse.jus.br/…/filiacao-partid…/relacao-de-filiados)

Em seu manifesto na Folha, ele e o amigo KK escrevem: “O Brasil é um país curioso. Em sua ânsia de levar-se a sério, de atribuir ares de grandeza e reverência a sua condição, acaba por tratar toda sorte de farsantes, loucos e incapazes com imerecida dignidade”.

Pois é.