O ex-presidente da Andrade Gutierrez mostrou o quanto a Justiça pode ser ridicularizada. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 18 de novembro de 2016 às 6:44
O ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques de Azevedo
O ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques de Azevedo

 

E quando você imagina que não existe mais forma possível da justiça brasileira ser ridicularizada, eis que o ex-presidente da empreiteira Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, presta um segundo depoimento ao TSE para “esclarecer” a sua já desmentida delação.

Após ter sido miseravelmente desmascarado pela defesa da ex-presidenta Dilma quanto à sua afirmação de que teria pago R$ 1 milhão de propina em forma de doação ao diretório do PT, Azevedo agora muda completamente a sua versão.

Depois que a cópia do cheque nominal ao golpista Michel Temer circulou pelos quatro cantos do universo conhecido, subitamente, não mais do que subitamente, uma clarividência divina iluminou a memória do nosso querido corruptor ao encontro da “verdade”.

Sem qualquer constrangimento, o iluminado “retificou” as suas declarações e o que antes foi posto como fruto de propina paga “certamente” ao PT, como que num passe de mágica, fazia parte do “cofre em separado” em que as “doações lícitas” eram realizadas aos sempre honestos convivas do PMDB, PSDB, DEM e demais incólumes partidos políticos.

A mais nova – e cabível – versão dos fatos, surgiu nesta quinta (17) em novo depoimento tomado pelo ministro do TSE, Herman Benjamin. O magistrado ouviu do depoente que houve uma “confusão” de sua parte e que à luz dos acontecimentos, não houve nenhum valor de propina da Andrade Gutierrez paga à companha Dilma-Temer de 2014.

Fico aqui me perguntando: quantas “confusões” essa verdadeira procissão de delatores teria “cometido” à medida que os investigadores deixavam claro que a única razão de ser de tudo isso é incriminar o PT, a esquerda e todos os movimentos sociais e democráticos deste país?

Independente das conclusões que inevitavelmente podemos chegar, o caso é que temos aqui mais uma prova incontestável da parcialidade descarada com que a grande mídia, a Polícia Federal, promotores e juízes vem conduzindo os trabalhos de apuração dos indícios dos crimes investigados.

Outorgar qualquer benefício previsto na lei de delações para um sujeito que claramente obstruiu a justiça prestando falso testemunho no intuito evidente de prejudicar um dos acusados, não só é uma afronta à sociedade civil quanto um atentado ao ordenamento jurídico provocado pelos próprios membros do judiciário.

Isso, é claro, num país onde as instituições realmente funcionam e que goza de uma justiça verdadeira imparcial, o que, cristalino está, não é o caso do Brasil. Devemos lembrar que a favor das “confusões” de Azevedo, existe sempre o inestimável incentivo dado pelo juiz Sérgio Moro. Condenado a 122 anos de prisão, o seu velho conhecido do Banestado, Alberto Youssef, após inúmeras “confusões” e irrisórios 2 anos e oito meses de cadeia, poderá agora usufruir de uma bela vista na zona sul de São Paulo.

Assim funciona o sistema para aqueles que contribuem para os grandes interesses envolvidos. E, sabemos todos, não cabem em termos publicáveis.

Tudo exposto, no pastelão mexicano que se transformou todo o processo penal ligado à operação Lava Jato e à cassação da chapa Dilma-Temer, apenas duas certezas são admitidas: 1) a de que jamais criminosos se sentiram tão a vontade para mentirem e 2) a de que os juízes envolvidos nunca se sentiram tão lisonjeados por terem criminosos apoiando a sua forma de fazer política.