Por que o governo não confronta as empresas que sonegam via paraísos fiscais?

Atualizado em 7 de novembro de 2014 às 11:49
Roberto Setúbal do Itaú
Roberto Setúbal do Itaú

Acabo de ler num site sueco em inglês.

A ministra da Economia da Suécia, Magdalena Andersson, deseja novas leis tributárias depois que explodiram denúncias sobre como empresas locais estão usando o paraíso fiscal de Luxemburgo para evitar o pagamento de impostos.

A Ikea é uma das corporações suecas que estão listadas.

“Jantei há poucos dias com ministros da Economia de países da União Europeia e este foi o assunto debatido”, disse ela. “Estamos focados em encontrar medidas que evitem a evasão de impostos.”

A ministra chamou a atenção para o que representa para a Ikea o desgaste de imagem pelo recurso a paraísos fiscais.

Da Suécia me desloco para o Brasil.

Dois bancos brasileiros foram citados no caso de Luxemburgo: o Bradesco e o Itaú Unibanco.

O jornalista Fernando Rodrigues deu na Folha. A investigação sobre Luxemburgo foi feita por uma associação internacional de repórteres da qual Rodrigues faz parte.

A mídia brasileira deu atenção zero ao caso. A Globo tem uma jornalista nesta associação, e simplesmente ignorou o assunto – um dos mais importantes da agenda econômica mundial, simplesmente.

Mas isso não surpreende.

O que de fato chama a atenção é que nenhuma autoridade econômica brasileira tenha falado deste tema até o momento.

Na Inglaterra, o Parlamento convocou presidentes de algumas das empresas que mais usam paraísos fiscais e exigiu explicações.

Starbucks, Apple e Amazon estavam entre as corporações intimadas a dar satisfações aos parlamentares britânicos.

A estratégia é, como se dizem os ingleses, “name and shame” os que fazem espertezas fiscais.

No Brasil, o silêncio governamental apenas contribui para as espertezas fiscais.

O Bradesco apareceu na mídia nestes dias – mas no seio de uma informação segundo a qual seu presidente teria rejeitado um convite para ser ministro da Economia.

Seria o triunfo do absurdo, um ministro da Economia vinculado a esquemas de fuga de impostos por meio de paraísos fiscais.

Listar as empresas que fazem este tipo de coisa é o primeiro e essencial passo para combater esse enorme problema brasileiro e mundial.

Dilma, em sua entrevista de ontem, falou que vai olhar “com lupa” as despesas do governo.

Pois tem que olhar também com lupa as receitas que não estão se materializando por artimanhas fiscais.

A sociedade tem que saber mais sobre aqueles que, já tão cheios de dinheiro, subtraem dos cofres públicos recursos que dariam em escolas, hospitais, portos e saneamento básico, entre tantas outras coisas de que o Brasil precisa muito mais que a rica Suécia — que está esperneando contra a evasão fiscal enquanto paira um intolerável mutismo entre nós.