O jornalismo de guerra da Folha é o pai do delirante caso do Itaquerão. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 23 de outubro de 2016 às 10:05

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As propriedades atribuídas a Lula uma hora avançariam mesmo para além dos pedalinhos, dada a selvageria inescrupulosa com que a mídia o persegue.

Mas o Itaquerão?

Aí já estamos no terreno do delírio, e não jornalístico. O episódio lembra o da Friboi, que diziam ser de Lulinha. Uma hora a coisa virou piada, e as redes sociais começaram a dizer que Lulinha era dono da Casa Branca, da Torre Eiffel e coisas do gênero.

O “furo” — aspas — veio da Folha. E claro: na manchete. Contra Lula é sempre assim: manchete. A frase, segundo o jornal, é do patriarca da Odebrecht, Emílio.

Os demais jornais e revistas não vão investigar o assunto. Vão repercutir brutalmente o que a Folha disse. É sempre assim. O que importa não é a verdade: é exterminar Lula.

Ninguém mais tem o direito de se julgar surpreso com os procedimentos da grande mídia. Mesmo assim, impressiona a leviandade com que um jornal grande ao menos no tamanho publica uma manchete daquelas.

Você vai ler o texto e logo descobre algo bem menos bombástico. Odebrecht disse que teria sido uma espécie de presente, numa suposta retribuição ao bom relacionamento que Lula tivera com a construtora em seus anos de governo.

São coisas inteiramente diferentes: presente é presente. Você recebe de graça. Espécie de presente é espécie de presente — algo muito mais subjetivo. É algo que frequentemente está muito mais na cabeça de quem alegadamente deu “uma espécie de presente” do que na de quem recebeu.

Mas a Folha, malevolamente, misturou tudo e puxou pelo mais danoso para Lula. É o mais puro jornalismo de guerra.

Também doi ver como este pseudojornalismo — banido há muitos das sociedades avançadas — ainda é praticado com inteira liberdade de ação pela mídia plutocrata no Brasil.

Provas para uma acusação de tamanha envergura? Quem se importa? Quem cobra? Lula — como qualquer cidadão brasileiro — está praticamente indefeso diante de uma violência de tal magnitude.

As grandes empresas jornalísticas insistem em rebaixar o país ao nível de república das bananas.

Estamos vendo mais um exemplo disso agora.