Como Cunha passou de golpista a ‘libertador’ na avaliação do advogado do impeachment. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 15 de abril de 2016 às 20:14
Reale é um dos símbolos da insanidade nacional
Reale é um dos símbolos da insanidade nacional

Um dos símbolos da insanidade golpista que caracteriza o Brasil destes dias turvos tem nome. Miguel.

Miguel Reale, jurista.

Nesta sexta, Miguel Reale defendeu o golpe no Congresso. Chamou os parlamentares de “libertadores”, como se aquele ninho de víboras contivesse Bolívares.

Mas este mesmo Reale, tão logo Cunha aceitou o pedido de impeachment contra Dilma, afirmou que se tratava de uma “chantagem explícita“. Repare. Não apenas chantagem, o que já seria criminoso. Mas uma chantagem aberta, descarada, despudorada.

Cunha agiu não por convicções patrióticas, que jamais teve, ou por motivos de moral, algo de que ele significa o oposto.

Agiu por vingança.

Se é para usar a palavra empregada por Reale, Cunha recorreu ao impeachment para libertar a si mesmo das devastadoras acusações de corrupção.

É neste sentido, e apenas nele, que se pode aceitar o termo de Reale. Os deputados golpistas são “libertadores” deles próprios.

Querem, com o golpe, libertar-se de pagar os preços de sua roubalheira. Caso Dilma seja derrubada, estará garantida a sua impunidade. Continuarão a fazer o que sempre fizeram.

Moro sumirá, a Lava Jato sumirá, a cobertura de corrupção da imprensa sumirá.

O país ficará um paraíso de mentirinha, como foi nos anos de ditadura segundo as lentes da Rede Globo.

É claro que haverá uma convulsão social de proporções imprevisíveis, mas isto não parece preocupar os golpistas diante do alívio momentâneo que receberão com a consumação do golpe.

Caso corra sangue, eles confiam que não será o deles, mas dos brasileiros que saírem às ruas em protesto contra o roubo de seus 54 milhões de votos.

Eduardo Cunha, que deveria há muito tempo já estar na cadeia, ficará com mais poder ainda do que já tinha com os paus mandados que amealhou no Congresso à base de dinheiro.

É Cunha, a maior expressão do roubo na política nacional, o chefe dos “libertadores”, no gongorismo doente de Miguel Reale.

Este mesmo Reale que classificara o impeachment como uma chantagem explícita.

O Brasil sofre uma crise moral sem precedentes, simbolizada por Cunha e demais “libertadores” – e também por cínicos como o jurista Reale.