O que a venda da Forbes diz sobre a mídia — a de fora e a do Brasil

Atualizado em 19 de julho de 2014 às 12:33
Steve Forbes
Steve Forbes

O caso Forbes – a venda da revista para um grupo de capital chinês — é um marco sob vários aspectos.

O principal deles é o que todos sabemos: a Forbes, uma das marcas mais reluzentes da mídia tradicional, não resistiu à internet.

Como tantas outras marcas da Era do Papel, foi diminuindo, diminuindo, diminuindo até virar nada, ou quase nada.

Ninguém mais lê revistas.

Em seus dias de glória, a Forbes era leitura obrigatória de executivos não apenas dos Estados Unidos, seu berço – mas de todo o mundo.

Jornalistas de negócios não podiam também passar sem ela. Como editor da Exame, sempre tinha a Forbes em minha mesa.

O melhor diagnóstico veio de Steve Forbes, filho do fundador: “Nosso negócio foi tornado obsoleto pela internet.” Foi Steve que comandou a venda.

Houve vários triunfos da esperança, nos últimos anos, para as revistas tradicionais.

Os editores acharam, em certo momento, que a cobrança de conteúdo na internet compensaria, ao menos em parte, o dinheiro perdido na publicidade e na circulação.

Não deu certo.

Mais recentemente, os editores se animaram com a perspectiva de que os tablets seriam a salvação das revistas na era digital.

Também não deu certo.

Os tablets são usados para o consumo de notícias novas, frescas – e não para a leitura de conteúdo antigo de revistas.

Um estudioso de mídia americano usou, ao comentar o caso da Forbes, uma expressão dura e verdadeira: “Não existe bala de prata para a mídia impressa.”

Segundo fontes, a empresa foi vendida por 475 milhões de dólares, cerca de 1 bilhão de reais.

Mas o mercado duvida que essa cifra seja verdadeira. Há a suspeita de que o número seja bem menor.

Por que comprar um negócio que o próprio dono classifica de “obsoleto”? Há, aí, uma questão simbólica. É a China se apropriando de um ícone americano.

É interessante colocar o assunto à luz do mercado brasileiro.

O quadro é, ao mesmo tempo, igual e diferente. Igual na obsolescência que a internet trouxe às revistas.

Diferente nas alternativas colocadas à frente das empresas proprietárias.

Imagine que algum grupo chinês, para ampliar sua presença no Brasil, tivesse interesse em comprar uma editora de revistas.

Não conseguiria. A reserva de mercado que vigora na mídia impede o controle de acionistas estrangeiros.

É uma ironia.

Durante décadas, as grandes companhias de beneficiaram da reserva. A competição de fora foi afastada.

Mas agora o que era uma vantagem competitiva – na realidade uma mamata, mais um dos tantos privilégios – é um obstáculo.

Onde existe, no Brasil, dinheiro suficiente para a compra de uma grande empresa de mídia? A oferta nacional de potenciais compradores é extraordinariamente rarefeita.

Isso pode obrigar os donos a carregar seu negócio até que ele se extinga.

As companhias brasileiras teriam muito mais chances de fazer negócio se pudessem vender para investidores estrangeiros.

Mas não podem.

É um fato doído para seus donos, e também uma espécie de justiça poética.