O que explica o eterno vôo de galinha de Russomanno na disputa pela prefeitura de SP. Por José Cássio

Atualizado em 22 de junho de 2016 às 10:22
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Duas perguntas emergem da liderança de Celso Russomanno na pesquisa para a prefeitura de São Paulo divulgada nesta terça pelo Ibope.

A primeira, obvia, tem relação com a sua extensa ficha corrida e o fato dele estar inelegível por oito anos pela Lei da Ficha Limpa. Afinal, a carinha do xerife do consumidor vai ou não aparecer na urna eletrônica em outubro?

A segunda questão, também obvia, mas não menos instigante é a seguinte: o que explica o fato de Russomanno sempre aparecer bem na fita nos levantamentos preliminares e ir desidratando até chegar entre os últimos na bandeirada final?

“Ele tem uma mídia espontânea expressiva e isso pesa quando se leva em conta que os primeiros levantamentos são um retrato daquilo que o eleitor vê no momento, sem considerar propostas e conteúdos programáticos e ideológicos”, explica a socióloga e assistente social Muna Zeyn, fiel escudeira de Luiza Erundina que também surpreendeu no levantamento.

Os números mostram Russomanno na liderança absoluta, com 26% das intenções de voto, seguido por Marta Suplicy (PMDB), 10%, Erundina (PSOL), 8%, Fernando Haddad (PT) e João Dória (PSDB), 6%, e Andrea Matarazzo (PSD), com 4%.

Na eleição municipal de 1988 foi assim também, mas quem desempenhava o papel de Russomanno na época era Paulo Maluf – dominou durante todo o processo, foi dormir prefeito e acordou derrotado numa virada histórica protagonizada pela hoje representante do PSOL.

Muna Zyen conta que os períodos são parecidos e, como em 1988, nada favoráveis a candidatos que se vendem como produto. “Se existe algo positivo na atual crise política é uma tomada de consciência da população”, diz ela.

“A sessão no Congresso que cassou a presidente Dilma mostrou um descompromisso dos políticos em relação à realidade e isso começa a ser percebido pelos eleitores. Não vi ninguém ali votando contra a desigualdade social, pela ética na vida pública ou por verdadeiras transformações na sociedade. Pelo contrário. Votou-se pela família, pelo pai, pelo avô, pela religião, numa clara demonstração de que o espírito público era o que menos interessava”.

Muna Zyen lembra que, como Maluf, Russomanno se “vende” com um candidato popular.

“Só precisa explicar onde, na televisão?”, pergunta. “Pois na periferia, na quebrada, onde mais se necessita, não é. Nos movimentos sociais, em defesa das minorias, batalhando por moradia para a população excluída, por creches, nos debates pela democracia, eu pelo menos nunca vi o Russomanno nesses locais”.

Outro ponto que deve atrapalhar a vida do pré-candidato do PRB é a nova visão que a sociedade assimilou do modelo político.

“Além de debater questões complexas, e humanas, os eleitores querem a horizontalidade da gestão, com participação popular e controle social”, diz Muna. “Impensável um modelo de gestão centrado nos interesses de um mandatário”.

Por questões complexas, e humanas, a ativista que segue como braço direito de Luíza Erundina há mais de 30 anos entende aspectos relacionados à mobilidade urbana, cuidados com os idosos, um olhar diferente para a inclusão e principalmente o combate sem trégua à desigualdade social.

Por razões assim é que mutos, como Muna, acreditam que Russomanno bateu no teto e daqui pra frente a tendência é seguir ladeira abaixo.

“Penso que o eleitor paulistano tem clareza para discernir entre alguém que vem embalado num modelo tradicional de pessoas com propostas e compromissos claros de transformação e com a democracia”, diz Muna.

Faz sentido. Afinal, se a população invadiu as ruas em junho de 2013 protestando e pedindo mudança não há de ser em nome de alguém, como p falso xerife do consumidor. que além da ficha suja e da cabeça vazia, representa a real e mais objetiva possível volta ao passado.