O radialista que mandou cuspir em Lula é um idiota banal — e esse é o problema. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 29 de janeiro de 2016 às 22:42
48 anos
48 anos

 

O radialista Alexandre Fetter divulgou uma espécie de pedido de desculpas pelo absurdo que perpetrou na sexta, dia 29.

“Ninguém cospe no Lula, velho? Que troço desesperador, isso é desesperador. Ninguém dá uma cuspida no Lula? Um sujeito desses é digno de uma cusparada”, disse no ar.

Segundo Fetter, o Grupo RBS, dono da rádio Atlântida, que transmite seu programa, tem um “rígido código de ética” seguido por todos os funcionários. Ele e seus amigos não incitam a violência e “prezam a vida, a família e os bons costumes”. Então tá.

É um falso mea culpa provocado pela carta aberta do deputado Paulo Pimenta, que indagou se a empresa “concorda com incitação ao crime”. Fetter, como o desocupado que xingou Chico Buarque de ladrão, refugou por medo de um processo.

Quem acompanha a atração que ele comanda garante que não é a primeira vez que deblatera contra Lula, Dilma, o PT etc. Apenas desta vez foi mais longe. Por quê? Porque sabe que não dá em nada. Na próxima, se não tivesse sido flagrado, provavelmente sugeriria que alguém metesse uma bala na cabeça de alguém.

Alexandre Fetter é uma subcelebridade regional. Seu “Pretinho Básico” é um suposto sucesso no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Fora daqueles limites, ninguém sabe quem ele é. Soube-se agora.

O “PB”, como é chamado, é uma imitação do “Pânico”, em mais uma prova inconteste de que tudo o que é ruim sempre pode piorar. Fetter é o Emilio Surita, âncora do negócio. Quatro ou cinco apaniguados têm a função de concordar com o chefe.

A mulher dele, apresentadora da RBS, faz participações especiais. Aparentemente, eles são considerados um casal famoso e têm fãs preocupados com sua estabilidade emocional, se estão juntos ou separados e se cozinham juntos. Fazem o marketing da fofura para saciar os seguidores.

Os “pretinhos” fazem piadas, ofendem pessoas, riem uns dos outros, fazem mais piadas — e comentam “fatos do dia”, simulando gravidade diante de alguns temas. A tragédia da boate Kiss, por exemplo. Ou — tcharããã — corrupção.

Aos 48 anos, Fetter age e pensa como um adolescente de uma família disfuncional qualquer. Até chegar às cusparadas de Lula, naquele dia, percorreu o caminho clássico de todo revoltado on line.

“O brasileiro pensa em política infantilmente”, falou. “Não tem acesso à informação, não tem acesso à notícia. Pra imensa população brasileira não faz diferença a crise. E vão votar no PT de novo”.

Em resumo, Fetter é um idiota banal. E aí está o problema.

A atmosfera está tão envenenada que o idiota banal passa a achar normal mandar cuspir nos outros. O bocó se considera bem informado e reproduz o que ouve, lê e vê, apenas acrescentando um toque pessoal de violência.

Para o bocó é trivial instigar sua audiência no sentido de escarrar num sujeito que ele odeia pela simples razão de que o mandam odiar. Ele nem reflete.

Hannah Arendt pergunta se “podemos detectar uma das expressões do mal, qual seja, o mal banal, como fruto do não-exercício do pensar”. Parece ser o caso de Alexandre Fetter e seus cometas.

Ou é mais simples. O poeta pernambucano Ascenso Ferreira escreveu uma quadra que descreve bem o talento de Fetter. O nome é “Gaúcho”. Lá vai:

Riscando os cavalos!
Tinindo as esporas!
Través das coxilhas!
Sai de meus pagos em louca arrancada!
— Pra quê?
— Pra nada!