O revelador jantar oferecido a Aécio pelo 1%

Atualizado em 19 de novembro de 2014 às 15:06
Aécio com o casal Dória
Aécio com o casal Dória

Não poderia ser mais revelador o jantar oferecido pelo relações públicas João Dória a Aécio em sua casa em São Paulo.

(Aqui, você tem o vídeo da fala de Aécio.)

Foi um jantar do 1%, pelo 1% e para o 1%. Para a sentença se completar, só falta Aécio obter 1% dos votos em outubro.

No caminho para isso ele está.

O que chama a atenção é a desconexão entre o mundo reunido em torno de Aécio por Dória, um ex-Cansei, e a realidade ululante das ruas.

Gosto da palavra alemã zeitgeist (zaitegáiste), que significa o espírito do tempo. O jantar era o oposto disso. O antizeitgeist.

Não surpreende que o melhor relato do encontro esteja numa coluna social, a de Mônica Bergamo, da Folha.

Aécio prometeu a um dos empresários participantes não aumentar os impostos. (Para o 1%, naturalmente.)

Há um consenso universal de que um dos dramas do mundo contemporâneo é a evasão de impostos do 1%. Mas Aécio se compromete a facilitar ainda mais a vida fiscal da plutocracia nacional.

Ele também disse que está disposto a tomar “medidas impopulares” desde a “primeira hora” caso se eleja.

O lado ruim é o fato em si. Sabemos bem o que querem dizer “medidas impopulares”: a conta é dos 99%.

O lado bom é que isso não vai acontecer porque são zero as chances de Aécio.

No encontro, FHC foi, segundo Bergamo, intensamente aplaudido. Disse que reformadores só são reconhecidos muito depois.

É uma forma de autoconsolo, aparentemente. FHC está dizendo para si mesmo que, se hoje é vaiado fora dos círculos refrigerados, no futuro será reconhecido.

Teria Thatcher dito para si mesma coisa parecida enquanto os ingleses se preparavam para comemorar seu passamento com festas em praça pública?

Acho que não. Ela era mais realista que FHC. E muito mais original. FHC, basicamente, copiou o que Thatcher fez: privatizar, desregular e criar as condições, como o tempo mostraria, para um brutal processo de concentração de renda.

Com o correr dos anos, o PSDB foi se transformando de Partido da Social Democracia Brasileira para Partido da Capital Democracia Brasileira. O “social” no nome é apenas uma tradição a resguardar.

Em sua desconexão formidável com as ruas, FHC, Aécio, Serra e demais líderes tucanos simplesmente ignoram o exemplo portentoso transmitido pelo Papa Francisco.

Francisco reinventou um gigante esclerosado conectando-o com as ruas. O ponto central disso foi identificar, claramente, a desigualdade social como o mal maior a combater.

Para fazer algo parecido, o PSDB teria que mudar seu discurso – o que é relativamente simples – e sua prática, e aí as coisas realmente se complicam.

Você tem que falar com a gente simples do povo, com os favelados e os excluídos. Seus sapatos podem se sujar de barro nessa empreitada, e você pode ser obrigado a comer carne de terceira. Dificilmente você vai aparecer em colunas sociais, com programas assim.

Alguém imagina Aécio e FHC neste tipo de ação?

Mais fácil continuar do jeito que está.

O único problema é que o partido marcha, então, para uma magnífica obsolescência. Ou, em linguagem mais popular, para o caixão.