O Santander não dá a mínima para a arte ou a liberdade de expressão. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 11 de setembro de 2017 às 23:10

POR LUIS FELIPE MIGUEL, professor da UnB, em seu Facebook

Por que meia dúzia de fascistoides foram capazes de dobrar um grande conglomerado financeiro e encerrar uma exposição artística?

Porque o Santander não dá a mínima para a arte ou a liberdade de expressão. Pode ser fácil se acomodar ao patrocínio privado da cultura, mais fácil do que buscar formas públicas de sustentá-la, mas ele sempre serve muito mais aos patrocinadores do que aos criadores ou ao público.

Cito Pierre Bourdieu, no diálogo dele com o artista plástico alemão Hans Haacke. Palavras de mais de vinte anos atrás, mas cada vez mais atuais:

“Pode-se temer que o recurso ao mecenato para financiar a arte, a literatura e a ciência instale pouco a pouco os artistas e os sábios em uma relação de dependência material e mental em relação às potências econômicas e às coações do mercado. Em todo caso, pode-se temer que se tente justificar a omissão das instâncias públicas sob o pretexto da chegada dos mecenas privados para definitivamente se retirar e suspender toda ajuda pública.

O resultado extraordinário é que são sempre os cidadãos que, através das isenções de impostos, financiam a arte e a ciência e, além disso, sofrem o efeito simbólico exercido sobre eles na medida em que este financiamento aparece como um efeito da generosidades desinteressada das empresas. Existe aí um mecanismo extremamente perverso que faz com que contribuamos para pagar nossa própria mistificação”.
(Pierre Bourdieu e Hans Haacke, Livre-troca. Rio de Janeiro: Bertrand-Brasil, 1995, p. 27.)