O secretário de Educação de Crivella não sabe o básico. Por Jean Wyllys

Atualizado em 22 de novembro de 2017 às 5:59
Alunos se protegem de tiroteio

PUBLICADO ORIGINALMENTE NO FACEBOOK DE JEAN WYLLYS

Em pronunciamento pelas redes sociais e repercutido na imprensa, o secretário de educação (?) do Rio de Janeiro, César Benjamin, deu mais uma demonstração de que chegou ao cargo mais pela afinidade com os donos da Igreja Universal do que pela capacidade de resolver os problemas graves da educação na cidade.

Com tantas escolas sem aulas por conta de tiroteios, sendo quase todas elas em áreas de concentração de pessoas negras, o secretário Benjamin resolveu polemizar sobre a existência ou não de racismo (!) em um país onde a chance de um jovem negro ser assassinado é 3,7 vezes maior do que a de um jovem branco. Segundo ele, como a maioria da população já é negra, e está em grande quantidade, seria impossível discriminá-la.

Essa sua colocação absurda seria espantosa vindo de qualquer pessoa, já que até as árvores no Rio de Janeiro estão cientes da persistência do que Marcelo Yukka, em uma canção, chamou de “biotipo suspeito”, que leva tanto as pessoas brancas a se esquivarem de pessoas negras, sobretudo à noite, quanto a Polícia Militar a abordar sistematicamente mais aos negros do que aos brancos. Além, é claro, de haver uma desproporção de negros nas cadeias, nas favelas, nos empregos precarizados e na miséria e de brancos nas universidades, no Congresso, nos bairros ricos e nos melhores empregos.

Porém, tal declaração, partindo de um secretário de educação, é ainda mais grave, porque também coloca em dúvida se Benjamin tem de fato condição de exercer esse cargo.

Afinal, como poderia alguém cuja função é coordenar os melhores esforços pela educação na cidade desconhecer o racismo como problema estrutural que leva especialmente mais esse segmento da população à evasão escolar, ao trabalho infantil, às piores escolas, às estruturas mais precárias de lazer e cultura?

Todos sabem onde estão os cinemas e teatros públicos e onde estão as unidades de polícia permanente. Só imbecis, a essa altura, poderiam acreditar que não existe relação entre séculos de escravidão e ausência de reparação e má distribuição de serviços públicos, como a educação de qualidade. Será que Benjamin acredita que o abismo entre a formação de negros e brancos é obra da natureza?!

Pelo bem da formação de uma cidade decente, de um Rio de Janeiro inovador, que não descarte a sua juventude, que aproveite o melhor do potencial intelectual de toda a sua gente, é bom que o secretário venha a público se retratar. Abre-se um dano muito grande quando homens brancos resolvem negar desigualdades raciais e usar o seu poder para revigorar o mito de “democracia racial”, que não resiste a uma novela. Benjamin precisa entender que nem todos os alunos que ele precisa zelar partem dos mesmos privilégios que ele teve.