Os jornalistas da GloboNews vão contar como foi o encontro clandestino de Maia com o diretor da Globo? Por Kiko Nogueira

Atualizado em 11 de julho de 2017 às 13:01
Paulo Tonet, da Globo, com Temer e Kassab em março

A face mais reveladora da miséria nacional está num trecho de matéria da Folha sobre a conspiração de Rodrigo Maia, o golpista do golpista.

No domingo, Maia havia se encontrado com Michel Temer para garantir que as instituições estavam funcionando e, claro, reafirmar sua lealdade.

Menos de uma hora depois, “o presidente da Câmara, em carro descaracterizado, foi a uma casa no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, para um almoço”.

Segue:

Era o convidado principal de um encontro promovido pelo vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet.

A reportagem da Folha chegou ao local por volta das 14h45. Menos de uma hora depois foi abordada, pela primeira vez, por um dos seguranças da casa, que questionou o motivo da campana.

Passados 15 minutos, um segundo funcionário da residência interpelou a reportagem. Ele disse: “o vice-presidente da Globo quer saber quem você é e para quem você trabalha”.

Maia trabalha para a mesma emissora que colocou seu chefe na cadeira que agora cobiça à luz do dia.

A reunião clandestina, em carro frio, fora da agenda é um escândalo.

Por que os comentaristas da GloboNews não cobriram? Por que não perguntam ao lobista de sua empresa o que foi conversado ali?

Temer é chamado, no Jornal Nacional, de “presidente denunciado”. A cobertura das tertúlias de Michel com Gilmar Mendes é inclemente (até ontem eram de absoluta normalidade).

Merval Pereira observou na CBN que o último jantar da dupla no Jaburu era “muito esquisito. Mostra que se perdeu o pudor, o recato, a noção de tudo. Não estão mais preocupados com nada.”

Quando é Rodrigo Maia com um alto executivo da emissora, está nos conformes.

Paulo Tonet é uma figura que trabalha pelos interesses de sua empresa, fazendo embaixadas e cavando negócios.

Em março, compareceu ao Planalto com Temer e Kassab numa cerimônia para sacramentar a alteração de regras para outorgas de radiodifusão, que retirou obrigações básicas das companhias na prestação do serviço.

Padilha postou uma foto com Tonet em suas redes sociais, numa demonstração patética de sabujice que não o livrará da cana.

Isso foi ontem. Hoje Michel não é bom para os negócios.

Em fevereiro, numa palestra no Instituto Millenium, um think tank neoliberal meio escarola, meio calabresa, ele veio com o velho papo furado sobre estado mínimo.

“O estado presume que o cidadão é hiposuficiente: ‘Eu preciso tutelar’. Nós, cidadãos, é que somos os titulares do poder político”, falou.

“A sociedade brasileira é muito permissiva com a intervenção do estado na sua vida.”

Vindo de um diretor de um grupo que vive da rapinagem do governo, seja de que bandeira for, é especialmente hipócrita.

Maia é só mais um garoto de recados. Se não tocar as reformas, entra um genérico, talvez não com aquela cara de guri pego na punheta (apud Duvivier).

E la nave la. O Brasil é uma concessão da Globo.

Tonet com o ínclito Padilha