Pablo Escobar teria orgulho de ver como o PCC saiu de SP para ganhar o Brasil. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 17 de janeiro de 2017 às 15:25
Marcola, chefe do PCC
Marcola, chefe do PCC

 

“Nós estamos chegando ao que a Colômbia foi nos anos 1990, com uma diferença grave: lá na Colômbia havia o Pablo Escobar. Aqui no Brasil nós temos mais de 50”.

As palavras são de Wallber Virgolino, secretário estadual de Justiça e Cidadania do Rio Grande do Norte, onde uma chacina deixou ao menos 26 mortos, todos decapitados, e um motim não tem hora para terminar.

“Existe uma facção em nível nacional que quer dominar o Brasil, mas o Estado desconsidera sua existência”, acrescentou. “Ele (o PCC) vem crescendo e as facções locais tentam impedir, até por questão de sobrevivência física e financeira.”

José Padilha, produtor executivo da série “Narcos”, apontou que só o realismo fantástico de Gabriel García Márquez era capaz de explicar uma história como a de Pablo Escobar na Colômbia.

Os elementos centrais da trajetória de Escobar, no entanto, não são nada estranhos para nós. Nada.

Basta ver o que ocorreu em São Paulo com o Primeiro C0mando da Capital e seu chefão, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola.

Escobar criou um império montado no tráfico de cocaína. Começou a cair quando resolveu sair de sua, digamos, zona demarcada para atender sua enorme ambição: ser político.

Deu casa, comida e dinheiro aos pobres. Fez um bairro. Elegeu-se deputado. Forçado a renunciar, passou a empreender uma guerra contra o estado.

Mandou matar Carlos Galán, o candidato à presidência que advogava a extradição de traficantes para os EUA. Armou atentados a bomba em várias localidades. Um avião foi explodido.

A paz foi restabelecida quando ele chegou a um acordo com o presidente eleito César Gaviria. Escobar concordava em ir para a prisão, desde que a construísse. Ergueu “La Catedral”, uma espécie de resort, guardado por policiais pagos por ele, de onde continuou mandando no crime.

O PCC pichado no presídio amotinado no Rio Grande do Norte
O PCC pichado no presídio amotinado no Rio Grande do Norte

Saiu de lá fugido, para morrer meses depois no telhado do vizinho, alvejado por agentes da DEA.

O PCC é financiado, sobretudo, pelo narcotráfico, embora haja também roubos de cargas e assaltos a bancos. Controla, segundo os dados disponíveis, as prisões paulistas e quer as cadeias de outros estados.

O acerto entre Gaviria e Escobar não é excepcionalidade colombiana. De acordo com o depoimento do delegado José Luiz Ramos Cavalcanti, vazado em 2015 para o Estadão, houve um encontro entre representantes do então secretário de Segurança Pública de SP com Marcola no presídio de Presidente Bernardes.

O ano era 2006. A intenção era pôr fim a uma onda de ataques que incluiu mortes de PMs e ônibus incendiados. O ex-governador Claudio Lembo admitiu que autorizou. Ele substituía Geraldo Alckmin, que renunciara para concorrer ao Planalto.

Na reunião, teria sido negociada a rendição dos bandidos. A integridade física deles, porém, precisava ser garantida. Alckmin negou tudo. “São Paulo não tem acordo nenhum com crime nenhum. É uma coisa disparatada”, reagiu, indignado.

O fato é que Marcola, desde então, foi internado apenas uma vez no chamado Regime Disciplinar Diferenciado, extremamente rigoroso.

A atuação dos EUA, que tiveram papel preponderante na caçada a Escobar, foi aventada em SP. O Wikileaks vazou que Serra, quando assumiu o governo em 2007, teve uma reunião com o embaixador americano Clifford M. Sobel em busca de orientação sobre como lidar com os atentados em estações do metrô atribuídos ao PCC.

A organização esteve à frente das crises de segurança pública de 2001, 2006 e 2012. Só cresce de tamanho depois de cada uma delas.

Há nove anos, em depoimento à CPI do Tráfico de Armas, um deputado questionou Marcola sobre as outras pessoas que faturam em cima de suas atividades.

“Tanta gente ganha dinheiro às nossas custas, senhor…”, afirmou. “Usam a gente, os próprios políticos. O senhor sabe disso”.

Escobar
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