Para salvar a própria pele, Michel Temer arranca o couro dos outros. Por Donato

Atualizado em 2 de agosto de 2017 às 11:53

O golpe brando (e top, segundo Gregorio Duvivier), colocou-nos na clássica enrascada: se ficar o bicho pega, se corre o bicho come.

Se Michel Temer for ‘absolvido’ hoje, seremos cozidos. Se for ‘condenado’, estaremos fritos. Os termos estão entre aspas pois ainda não estamos no estágio da sentença mas a votação na Camara hoje dará uma boa ideia do desenrolar do tema.

Nos últimos dias o presidente golpista esteve falastrão, cantando vitória. Mas um levantamento realizado pelo jornal Folha de S.Paulo demonstra que os deputados que declaram-se fielmente contra a abertura da denúncia por crime de corrupção de Temer – no exercício do mandato – feita pela Procuradoria Geral da República são apenas 105. Pouco mais da metade dos que se dizem favoráveis à aceitação do processo. Ou seja, há cerca de 200 votos no limbo (entre indecisos e os que disseram que não iriam responder à enquete).

A maneira de Temer lidar com o assunto é típica dos corruptos: abriu a carteira. ‘Empenhou’ (termo oficial para ‘liberou geral’) nada menos que R$ 5 bi para deputados nos últimos meses. Apenas dezesseis deputados – estratégicos para Temer – receberam mais de R$ 10 milhões cada um.

Só ontem, o presidente ilegítimo atendeu a 35 deputados, depois almoçou com 58 ruralistas e a noite jantou com uma centena de representantes do chamado baixo clero. E novamente ontem o bolso foi generoso. Sobretudo para os ruralistas. A bancada deles representa 210 votos. Valiosíssimos. O pai de Michelzinho então prometeu-lhes redução de alíquota na contribuição ao Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural.

Para salvar a própria pele, Michel Temer não está nem aí para a pele de quem fica de sol a sol na lavoura. Os bóias-frias estarão ainda mais descobertos de amparo social a partir de agora, se é que tinham algum.

Temer era o destinatário da mala que continha R$ 500 mil e deslizava sobre as rodinhas atrás de seu fiel escudeiro Rodrigo Rocha Loures. Se o juiz Sergio Moro estivesse cuidando desse caso e se comportasse de forma idêntica a como se posiciona no processo contra Lula, poderia novamente alegar que as evidências dispensam as provas. Basta juntar os pontos e não ser alguém que toma sorvete com a testa.

Mas a defesa do presidente Michel Temer afirmou há algumas semanas que a peça de acusação era ‘chocha, capenga, manca’, e assim também tem sido a reação das ruas. Esse é o maior trunfo de Temer até agora. Está conseguindo contar com a apatia daqueles que parecem não acreditar no que estão vendo, ou não estão vendo nada de mais pois o plano era esse mesmo. Arrancar o couro do trabalhador.

O final do dia de hoje nos colocará diante de um cenário triste. Temer sairá sem nenhuma condição de manter uma base representativa e seguirá cedendo aos desejos das bancadas mercenárias e nada comprometidas com a população ou então já estará com os dias contados para se afastar. Daí, estaremos nas mãos de Rodrigo Maia. Bom, não?

Hoje poderia ser o Dia D, mas a política de baixo nível terá ganhado uma sobrevida.