Partidos mudam de nome para vender velhacaria como novidade. Por Donato

Atualizado em 9 de agosto de 2017 às 16:13
A deputada federal Renata Abreu, o deputado Silas Freire e o senador Álvaro Dias no lançamento do Podemos

Já conhece o Livres, o Avante, o Podemos, o Mude? Não? Conhece sim, você é que não sabe.

Na próxima quinta-feira (dia 10), por exemplo, haverá o anúncio oficial da candidatura de Jair Bolsonaro pelo ‘Patriota’. Nunca ouviu falar? Pois bem, é o antigo PEN (Partido Ecológico Nacional). Bolsonaro deixou o PSC (Partido Social Cristão), que pelo visto anda sem ideias de marketing, e pulou para o tal Patriota. Algum dia saberemos se foi a ida do deputado que motivou a mudança de nome do partido ou o contrário.

Já os eleitores do PTN (Partido Trabalhista Nacional) precisam ir se acostumando. Se quiserem assinalar os candidatos da sigla, terão que procurar pelo novo nome do partido que foi alterado para ‘Podemos’.

É obviamente uma descarada alusão ao partido espanhol surgido após o movimento dos ‘Indignados’ tomar as ruas. Aqui, o PTN deseja herdar essa imagem de estar em sintonia com os tempos atuais.

“Juntos podemos mudar o Brasil”, disse a presidente da legenda, Renata Abreu, na ocasião de apresentação em que convidava as pessoas a conhecerem o partido. Como assim conhecer? O PTN tem registro eleitoral no TSE desde 2 de outubro de 1997!! É novo?

Tem mais. O PtdoB (Partido Trabalhista do Brasil) – que é ainda mais antigo, é de 1994 – trocará de nome, para ‘Avante’. O PSL (Partido Social Liberal), outro que já tem 22 anos de idade, está com o nome ‘Livres’.

E o bom e velho DEM (Democratas)? Esse também deseja ser rebatizado para MUDE (Movimento de Unidade Democrática). Mas esse partido nem poderíamos colocar na lista, afinal é especialista na matéria. Já foi Arena (1965-1979), depois PDS (1979-1985), PFL (1985-2007) e atualmente é DEM. Por enquanto.

O que desejam com isso? Querem se adequar às expectativas populares pelo ‘novo’ para as eleições de 2018. Sem um novo conteúdo, alteram o nome, a embalagem, e assim ludibriam os incautos que aguardam “uma solução antipolítica, vinda de fora”, como declarou Armínio Fraga – outro ex-amigo de Aécio Neves – em entrevista à Folha de S.Paulo esta semana.

A medida de maquiar uma marca ou produto desgastado após algum tropeço é comum. Para ficarmos em exemplos ainda relacionados ao tema, a JBS mandou retirar o logotipo da Friboi nas peças de carne que comercializa. Lavou à jato forte sua mácula pelo envolvimento os esquemas de propinas.

Outra empresa duramente afetada, a Odebrecht também está em fase de mudar nomes e logomarcas de empresas do grupo, como estratégia para se dissociar dos escândalos. Será uma busca por “recuperação reputacional”, segundo afirmou o vice-presidente Marcelo Lyra, responsável pela comunicação da holding. É pelo mesmo motivo que companhias aéreas suspendem a veiculação de propagandas quando ocorre um acidente com alguma de suas aeronaves.

Mas partidos não são produtos. E o fato de preferirem varrer para baixo do tapete o antigo nome ao invés de realizarem uma faxina na alma, reflete que pouca coisa realmente irá mudar em suas diretrizes.

Quando se fez um balanço da operação italiana Mãos Limpas, observou-se que a corrupção apenas havia aperfeiçoado seus métodos e não sido extinta, por obvio.

Por essas bandas, o saldo do vendaval de 2014, o resultado do ‘passar o Brasil a limpo’ gritado aos quatro cantos pelos arautos da operação Lava Jato será semelhante em termos de substância. Muita espuma.

A face mais visível no momento é a movimentação dos partidos em busca de uma nova embalagem, um novo rótulo para as eleições do próximo ano. Quem quiser que acredite que estas siglas sejam verdadeiros pokemons e tenham evoluído.