Por que “Mulher Maravilha” não é um filme tão feminista assim. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 13 de junho de 2017 às 16:07

Só essa semana umas dez amigas feministas postaram na timeline sobre o filme Mulher Maravilha, em cartaz nos cinemas.

Todos os posts entusiasmados diziam, no fim das contas, basicamente a mesma coisa: Trata-se de um filme “feminista” de super-heroína.

Não fui ao cinema pra conferir – confiei, confesso, cegamente na opinião das dez amigas feministas –, fui muito certa de ter orgasmos mentais com cenas incríveis de mulheres fortes lutando por seus ideais e todas essas coisas que feministas e seres humanos empáticos em geral adoram.

Mulher Maravilha é, antes de tudo, um bom filme de super-heroína.

Um bom roteiro, uma ambientação impecável, bons efeitos especiais, a atuação linda de Gal Gadot e uma dúzia de cenas de protagonismo feminino, obviamente para faturar no que eu vou chamar a partir de agora de mercado empoderado – aquele nicho de mercado voltado para as esquerdas e para os movimentos sociais e políticos – por mais incongruente que isso pareça. Isso, alipas, inclui o feminismo, que por sua vez inclui a mim.

A injustiça que constatei na saída do cinema, na verdade, não tem a ver com capitalismo ou qualidade fílmica. A questão é que, mesmo em se tratando de um bom filme, digno de um olhar sensível e respeitoso (como qualquer outro filme), não faz sentido elegê-lo – como tenho visto – o filme feministão da porra do ano, porque ele não é.

Primeiro, a Ilha das Amazonas – Spoiler – é um paraíso lotado de mulheres lindas que foram colocadas lá por Zeus – um Deus masculino –  para salvarem o mundo através do amor, acaso Ares –  o Deus da Guerra, outro Deus masculino –  voltasse a tentar destruir o mundo.

A irritante ideia de mulheres como mães do universo aparentemente não sai de nossas cabeças. Mulheres não podem ser violentas – se lutam com espadas, precisam justificarem-se pelo amor e pela doçura.

É possível imaginar um super-herói homem dizendo, antes de matar seu arqui-inimigo: “Eu luto pelo que acredito, e acredito no amor (…)”?

Eu não consigo. Mas Diana, a personagem de Gal Gadot, diz isso para justificar sua decisão de prosseguir fazendo com o que pretendia fazer desde o início do filme: matar o Deus da Guerra.

Foi impedida, aliás, pelo co-protagonista, Steve, um soldado da segunda guerra que acha que sabe o que está fazendo mas acaba, na maioria das vezes, só atrapalhando mesmo.

A atuação de Chris Piner até convenceu, e o personagem era mais do que necessário no enredo: representou o elo de Diana entre a Ilha das Amazonas – uma espécie de paraíso fora do mapa – e o mundo dos homens.

A questão não é a desnecessidade do personagem – porque ele é necessário, de fato – a questão é que poucos super-heróis lutam ao lado de mulheres – eles lutam, aliás, para salvarem suas frágeis mulheres. Por que exatamente um filme de super-heroína precisa ter um co-protagonista homem? Perguntar não ofende.

Eu não perco a feliz mania de problematizar – e tomara que nunca perca – mas quero ainda ser justa:

Tive orgasmos mentais na poltrona do cinema. Vale a pena ver em quantos D’s for possível.