Por que o G1 tem que responder pelos comentários criminosos que publica

Atualizado em 23 de maio de 2014 às 11:50

download

Tentei, como repórter, entender a política de comentários do G1.

Me chamou a atenção um comentário no qual uma pessoa dizia que já era hora de invadir a casa de Genoino e matar as pessoas.

Escrevi um texto antes de me lançar ao trabalho de repórter. Perguntei o básico: como um site podia permitir uma coisa delas, o que os acionistas da Globo pensavam sobre isso – e como anunciantes colocavam sua marca num produto frequentado por celerados, bárbaros, selvagens.

Este é um ponto que particularmente me intriga: a postura passiva dos anunciantes do G1. Um site, afinal, é os seus leitores, e os leitores do G1 são aqueles.

Num mundo menos imperfeito, os anunciantes rejeitam um portal como o G1 – e qualquer outro site que abrigue e incentive brasileiros desagregadores e, usemos a palavra justa, criminosos.

Não só isso. Neste mundo menos imperfeito, os cidadãos também rejeitam com a melhor arma que existe: o boicote. Cada clique dado ao G1 vai ajudar na venda de anúncios, posteriormente.

E claro, nesta utopia possível de que falo, a justiça já teria identificado e processado – exemplarmente – os meliantes digitais.

Bem, fiz meu papel de repórter.

Procurei o editor chefe do G1, Renato Franzini. Depois de inúmeros telefonemas, e só quem liga para a Globo sabe o caos que é tentar achar alguém lá, encaminharam minha chamada a Franzini.

Ele foi pego de surpresa, notei. Não havia uma secretaria de anteparo.

Me apresentei e disse o que queria saber: qual era a política de comentários do G1.

Franzini me pareceu desconcertado. “Justo pra mim esse cara vai telefonar”, ele deve ter pensado.

Ele titubeou e fugiu da resposta. Disse que só a Central Globo de Comunicação – uma espécie de RP da empresa – poderia dar a resposta.

Tentei.

“Somos jornalistas nós dois. Uma frase é tudo que eu quero. Nem que seja: nós não temos política de comentários.”

Ele estava desconfortável, talvez intimidado por mim – embora eu tenha sido delicado.

Mas nada.

Ele me passou o telefone da Central de Comunicação. Depois de mais uma minimarotona ao telefone, cheguei a  uma das funcionárias do diretor Sérgio Valente.

Expliquei tudo de novo.

Ela não tinha nada a dizer naquele momento, por não saber qual era a política do G1.

Me orientou a escrever a pergunta num email e remeter a ela. Ela se informaria e me responderia.

Evidentemente, jamais recebi resposta.

Dias depois, veio o caso do ônibus, e os comentários assassinos no G1.

Alguma surpresa para mim? Nenhuma.

Fui integrante do Conselho Editorial das Organizações Globo, o Conedit, comandado por João Roberto Marinho. Alguns minutos numa reunião no Conedit e teria sido resolvida a questão dos comentários homicidas.

No DCM, fizemos isso em minutos, tempos atrás. Criamos regras de decência e civilidade. Quem as infringe não é publicado. Quem instila ódio é banido: não queremos leitores assim. Simplesmente não queremos.

Existem sistemas modernos de moderação que tornam a filtragem fácil: o nosso, o Disqus, é usado por grandes sites internacionais.

Vejo agora que a justiça enfim se movimentou, sob a comoção do achincalhe às vítimas do acidente, e decidiu pedir o IP dos internautas canalhas.

É um passo.

Mas outro tem que ser dado: incriminar também quem publica. E exemplarmente.

Imagino, candidamente, o que aconteceria na Inglaterra se a BBC publicasse um e apenas um comentário como os do G1.

Haveria uma comoção imediata na opinião pública.

O roteiro está dado. O cidadão, para exigir mudança, tem que agir com sua maior arma: boicote.

O anunciante tem que rejeitar sites lidos por facínoras.

E a justiça tem que cobrar não só quem produz comentários criminosos – mas quem os publica.

Isto feito, o universo digital brasileiro rapidamente se civilizará.