Por que os nossos atletas negros não denunciam o racismo como LeBron James?

Atualizado em 9 de dezembro de 2014 às 10:25
Leblon com a camiseta de protesto
Leblon com a camiseta de protesto

 

O astro do basquete americano LeBron James surgiu em quadra para o aquecimento da partida que disputaria ontem à noite pelos Cavaliers trajando uma camiseta preta com os dizeres “I can’t breath”.

Além dele, Kyrie Irving de seu time e mais alguns jogadores da equipe adversária (os Nets) também envergavam a camiseta com a útlima frase proferida por Eric Garner, que morreu asfixiado por policiais de Nova York. Garner era negro e foi morto por policiais brancos, um clássico na sociedade americana.

No sábado, Derrick Rose, do Chicago Bulls, já havia usado camiseta semelhante assim como alguns jogadores da NFL fizeram o mesmo no domingo. Palmas para a coragem e postura desses jogadores.

Por que não vemos nada parecido por aqui? Por que nenhum atleta negro enverga uma camiseta estampada, por exemplo, com “Por que o senhor atirou em mim?”, que foram as últimas palavras ditas por Douglas Rodrigues, jovem assassinado na Vila Sabrina no ano passado?

Muitos serão os argumentos em defesa dos regimentos esportivos que proibem os atletas de manifestarem-se ideológica e politicamente durante as competições. Serão todos sensatos. Mas e depois que o juiz apita (ou antes, como fizeram os americanos)? Por que nossos jogadores e atletas permanecem tão obtusos?

Por que ao final de uma conquista vitoriosa vários deles mostram algum adereço ou mesmo uma camiseta agradecendo a deus, a Jesus ou qualquer outra entidade pela graça alcançada que foi exclusivamente em favor próprio? Astros e ídolos do esporte devem ter uma posição de responsabilidade social que não pode se limitar ao bom mocismo de simplesmente não beber ou não fumar em público. É preciso marcar posição, cobrar melhorias e respeito, colaborar com a redução da desigualdade.

“Evidentemente temos que fazer as coisas melhor como sociedade. Temos que mostrar mais empatía entre nós, sem importar a que raça pertencemos” disse LeBron James. Não querem ganhar salários e demais cachês de direito de imagem como ídolos ou heróis? Pois bem, esse é (ou deveria ser) o ônus.

O goleiro Aranha do Santos foi talvez o caso recente de maior coragem de enfrentamento ao racismo, porém estava na condição de vítima. Havia sentido na própria pele. Não invalida mas minimiza o poder de empatia na indignação. É, claro, muito melhor pelo menos que Pelé, que fez pouco caso e ainda recriminou o “exagero” de Aranha.

Mas há tantos outros jogadores que sofrem com bananas arremessadas em campo, gritos primais e xingamentos. O que fazem? Choram em muitos casos (e com razão), mas o que mais? Quando veremos ‘astros’ engajados em causas sociais relevantes? Empunhando bandeiras que não sejam de grêmios?

As crescentes manifestações nos Estados Unidos devem servir de lição ao Brasil. Lá, homens negros na faixa dos 15 aos 19 anos de idade têm 21 vezes mais chances de ser mortos pela polícia do que brancos da mesma idade. Aqui não é diferente. Policial branco que mata jovem negro de periferia também é um clássico por essas bandas.

Há ainda outras similaridades que acentuam o procedimento violento amparado em preconceito (lá existe o descritivo “perfil racial e étnico” no relatório de abordagem, que possui algum paralelo ao nosso “auto de resistência” para justificativa a posteriori da matança).

A sociedade como um todo deve envolver-se na luta contra essa aberração e pessoas de destaque têm papel fundamental nessas questões. Nossa sociedade deve estar atenta aos protestos americanos e nossos atletas devem se espelhar em LeBron James e companhia.

Usarem sua popularidade apenas para vender xampu anti-caspa ou plano de telefonia é muito pouco. Com tantos deles nascidos e crescidos em favelas, é inaceitável que fechem olhos, bocas e ouvidos depois do sucesso.