Precisamos deixar livros ao alcance de nossas crianças, não armas. Por Jean Wyllys

Atualizado em 21 de outubro de 2017 às 6:25
João Pedro, vítima do ódio, e sua família

PUBLICADO NO FACEBOOK DE JEAN WYLLYS

Que tristeza o ocorrido no Colégio Goyases, em Goiás! Faltam até palavras para me solidarizar com todas as famílias envolvidas nesse drama horrível.

A cena de um menino de apenas 14 anos efetuando disparos para matar outros dois colegas da mesma idade, depois de episódios de bullying, é simplesmente cruel. Difícil de não se emocionar.

Espero que, a partir dessa catástrofe, sejamos ao menos levados a uma reflexão séria sobre as questões que permitiram chegarmos a essa situação.

Por um lado, no que diz respeito ao risco evidente de se ter armas em casa e ao alcance de crianças. Neste momento em que se fala da liberação de ainda mais armas de fogo para população, sob o pretexto de garantir a sua segurança, esse evento triste serve também de alerta para as consequências. Não podemos cair nesse tipo de armadilha.

Do mesmo modo, precisamos discutir sobre bullying nas escolas, que é um sofrimento psíquico recorrente, diferente de um desentendimento qualquer. Esse assunto vem sendo reiteradamente interditado por demagogos que se recusam a falar sobre temas como o racismo, a homofobia, a misoginia, entre outros. Eles dizem falar em nome da preservação da pureza de nossas crianças, mas, na prática, as deixam reféns de problemas que atrapalham seus estudos, potencializam a evasão escolar e até levam ao suicídio de jovens e o cometimento de crimes contra vida de outros colegas.

Esta não é a primeira vez que o país se entristece com disparos em uma escola. Em 2011, em Realengo, no subúrbio do Rio, outro jovem, em situação semelhante, matou colegas de classe depois de episódios de bullying, e depois acabou também morto.

A maneira efetiva que temos de lidar com a dor por essas crianças perdidas, estes futuros agora ceifados, é escolhermos o caminho que aponta para um ambiente escolar acolhedor para as diversas realidades dos nossos alunos. Precisamos deixar eles ao alcance de livros e cadernos, e não de armas. Cabe a nós, os adultos, criarmos a consciência para livrar nossas salas de aula dos males que vem produzindo tiroteios dentro delas.