Putin vai se eleger porque é a cara da Rússia

Atualizado em 13 de junho de 2013 às 17:49
Putin nos seus dias de KGB

 

E então os russos vão às urnas neste domingo. Putin provavelmente vai ser eleito presidente, agora com um mandato não de quatro mas de seis anos, e passível de renovação. Ele deve substituir sua Dilma, Medvedev, que Putin fez presidente porque cumprira já os dois mandatos regulamentares.

A Rússia ferve, e o mundo acompanha com grande interesse, menos pelo que o país é e mais pelo que foi, a superpotência da Guerra Fria. A capa das duas revistas que assino, Economist e Week, trazem Putin. Pergunta a Week, com uma ilustração que remete ao Don Corleone de Marlon Brando: “Um governo de gânguesteres?”

A oposição se mexe, liderada por gente como o escritor e ativista Boris Akunin. Teriam os russos sido picados pelo espírito libertário da Primavera Árabe? (Que em vários casos se transformou não em verão mas em inverno siberiano.)

Para os russos, não se trata de um reencontro com a democracia, e sim de um encontro. A Rússia jamais viveu sob uma democracia. Do absolutismo de czares como Ivan, o Terrível, a Rússia passou quase que instantaneamente para a ditadura bolchevique, em 1917.

Ao longo da história, os russos viveram apenas alguns meses de liberdade, o curto período que foi da queda de Nicolau II, em março de 1917, até a revolução bolchevique, em novembro. Alexandre Kerenski, o líder deste efêmero período, escapou do cerco e da morte sob os bolcheviques vestido de mulher: isto simboliza a Rússia.

Lênin já se instalou no poder sob a égide da ditadura bolchevique. Seu sucessor foi Stálin, um dos maiores assassinos de massa do século 19. (Alguns sonhadores dizem que se Trotski tivesse vencido a batalha da sucessão de Lênin, as coisas teriam sido diferentes. Ilusão. Trotski era um Stálin de cavanhaque.)

Com a queda do comunismo russo, em 1989, apareceu não uma democracia, e sim uma roubalheira comandada por egressos da selvagem polícia política soviética, a KGB. Putin trabalhou 15 anos na KGB.

A cultura russa, lapidada ao longo de séculos de tirania, é autoritária, grosseira e violenta. Putin encarna tudo isso,e por isso deve se eleger. Se a nova geração conseguirá transformar aquela cultura, é uma questão em aberto. Romper com um passado milenar é um empreendimento épico.

Para o resto da humanidade, é uma bênção que a Rússia seja agora não um colosso ameaçador, mas um nanico barulhento.