Que fazer com o professor que chama Lula de larápio e Dilma de bucéfala?

Atualizado em 3 de março de 2015 às 10:04
Sem limites
Sem limites

Boa parte do ódio que domina a classe média conservadora brasileira se multiplica nas redes sociais, notadamente o Facebook.

É o ódio gerando mais ódio, como gravetos lançados a uma fogueira.

O que mais chama a atenção não é a virulência das agressões – mas a completa impunidade que os predadores digitais encontram para caluniar suas vítimas.

Um caso exemplar é o do médico André Márcio Murad, professor da UFMG.

Ele fez de sua página no Facebook uma fábrica incessante de ataques virulentos a Lula, Dilma e ao PT.

Lula é larápio, Dilma é bucéfala e jumenta, o PT é uma organização criminosa.

Num determinado momento, ele avisou no Facebook que era a favor de um golpe militar urgente.

Suas postagens furiosas foram postadas e reproduzidas livremente até o DCM noticiá-las ontem, depois que um leitor nos informou sobre elas.

Murad removeu sua página imediatamente. Sua valentia terminou abruptamente.

Murad é um entre tantos que estimulam o ódio entre os brasileiros.

A grande questão aí é: por que ninguém coíbe esse tipo de comportamento criminoso?

Os advogados do PT não fazem nada? E os do governo?

O mínimo que se deve fazer, nestes casos, é dizer ao agressor: você vai ter que responder na Justiça por me chamar de ladrão.

Se Murad estivesse postando coisas racistas, ele já estaria encrencado na Justiça há muito tempo. O que ele faz – como tantos outros assemelhados — não é um crime menor. É, apenas, diferente.

Não se pode tolerar.

Imagino o que ocorreria com ele se fosse britânico e postasse acusações contra o premiê David Cameron. Quantas horas ele teria entre a primeira postagem e uma dor de cabeça jurídica que rapidamente o levaria à cadeia?

Poucas, poucas.

No Brasil, reina a impunidade.

Curiosamente, os conservadores se defendem muito bem. Ali Kamel, por exemplo, processou Miguel do Rosário, do Cafezinho, por ter sido chamado de “sacripanta”, um elogio entusiasmado diante do que Murad fala de Lula e de Dilma.

É preciso civilizar as redes sociais, em nome do interesse público. Abutres não podem se servir delas para promover um estado de espírito bélico na sociedade.

Nas palavras de um estadista britânico que se bateu contra barões da mídia, a liberdade sem responsabilidade é atributo, ao longo dos tempos, das marafonas.

Você pode ter liberdade para escrever o que quiser – desde que assuma a responsabilidade pelo que disse.

Que Murad faria se alguém começasse a usar contra ele os adjetivos que ele emprega contra Lula?

Iria chamar um advogado e processar o ofensor, naturalmente.

É isso que todo mundo deve fazer.

Repito: em nome do interesse público. Reprimir a selvageria irresponsável e irracional de pessoas como Murad é um passo essencial para mitigar o ódio que mancha e divide o país.