Quem é Accioly, amigo de Aécio que negocia delação com a Lava Jato. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 22 de agosto de 2017 às 7:44
Aécio, Zeca Pagodinho e Accioly

Este artigo está sendo republicado à luz da notícia de que Alexandre Accioly negocia delação com a Lava Jato.

Em seu depoimento à Lava Jato, Henrique Serrado do Prado Valladares, ex-vice-presidente da Odebrecht, contou que Aécio Neves recebeu R$ 50 milhões em troca de apoio ao consórcio da Odebrecht com a Andrade Gutierrez que disputou o leilão das usinas de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira.

O dinheiro teria sido depositado numa conta secreta em Cingapura em nome do empresário Alexandre Accioly, dono da academia BodyTech e velho amigo de Aécio — é padrinho de um de seus filhos.

Numa passagem, Valladares fala que encontrou os dois num restaurante no Rio de Janeiro. Estavam em companhia de Diogo Mainardi, um dos donos do blog Antagonista, vazador oficial da Lava Jato.

“Eu tinha ido para aquele restaurante, Gero, com a minha esposa para jantar. E estavam lá Aécio Neves sentado com Accioly, mais o cara que faz o Manhatann Connection… o Diogo Mainardi. Estavam reunidos na mesma mesa”, afirma.

“Na despedida, o governador Aécio Neves disse a mim: ‘Olha, Henrique, o Dimas Toledo [então diretor de Furnas], nosso amigo comum, vai lhe procurar’. Simplesmente isso. E se despediu de mim”.

Continua: “Então, (um dia) o Dimas me traz um papelzinho com o nome do Accioly, eu sabia que era amigo do governador. Eu me recordo que é em Cingapura a conta. Não é Suíça, não é Bahamas, é Cingapura”.

Mainardi alega que é mentira. “Cruzei com os dois no Gero – mais de uma vez – e sempre os cumprimentei”, escreveu.

“É evidente que eu não teria o menor problema em admitir um jantar com Aécio Neves e Alexandre Accioly”.

É amigo deles?

Quem é Accioly?

Em 2012, a extinta revista Alfa, que eu dirigia, fez um perfil de quem Valladares chamou “playboy”, assinado por Marcelo Zorzanelli, hoje um dos membros do Sensacionalista.

Transcrevo alguns trechos:

Ainda garoto, o carioca Alexandre Accioly traçou um objetivo para si próprio: viver bem. “Não queria ficar rico. Eu queria conhecer a Disney”, diz. “Mas nunca tive ninguém me bancando. Fui com o meu dinheiro aos 27 anos.” Aos 49, ele frequenta com a mesma desenvoltura a seção de economia e as colunas sociais.

Empresário desde os 17 anos, fez uma série de bons negócios desde que montou uma agência de figurantes no fim dos anos 1970 – teve um jornal de classificados de carro, outro de esportes, vendeu revistas, montou um centro de telemarketing, uma produtora de shows, uma rede de academias, restaurantes de luxo, uma marina em Angra dos Reis – e ficou amigo de alguns dos homens mais poderosos e influentes do país, que o consideram um “irmão”.

(…)

“Aos 8 anos, agenciei alguns amigos como engraxates. E os ensinei a, de noite, se sujar de graxa para pedir dinheiro. Eu ficava com metade. Até que uma das mães descobriu e acabou com o meu negócio.”

“Minha avó tinha uma boa pensão do exército, que bancava a família toda. Ela havia me ajudado a montar um jornal de classificados de automóveis. Aí veio o Plano Collor e quebrei. Logo depois, ela foi atropelada e morreu. Quando acabou o dinheiro, lembrei que ia com ela todo mês sacar a pensão… [Aciolly interrompe a entrevista e diz: Você publicando isso eu vou ser preso… mas, pode publicar. Acho que já prescreveu]. Depois que ela morreu, fui lá e a máquina começou a cuspir dinheiro. Que alegria! Vivemos mais de um ano com essa pensão, até eu começar a ganhar algum de novo.”

“Há dois anos, dei uma longa entrevista para uma revista mensal [a Piauí]. Um belo dia, minha assessora me disse que o diretor de redação [Mario Sergio Conti] queria jantar comigo. A primeira pergunta que ele me fez: `Alexandre, você, com a sua vaidade, sempre coloca seu nome nas suas empresas. Como você se sente no caso do restaurante Fasano? Ficar no segundo plano não te incomoda? Eu me debrucei sobre a mesa e disse: `Cara, eu adoro gozar com o p** dos outros. O que me importa é dinheiro no bolso, meu nêgo.”

“Eu não falo inglês. Por isso, sempre brincava quando começava a namorar: se a mulher não falasse inglês, terminava logo, porque aí não dava para viajar.”

“Eu tomava decisões de risco na minha empresa de telemarketing. Não tinha dinheiro para investir e minha carga tributária era de 40%. Eu ia pagar imposto ou comprar computador e pagar salário? Eu falei: `No c*, imposto!. Só pagava os impostos dos funcionários. E nunca admiti que falassem que eu era sonegador. Fui inadimplente por mais de dois anos. Foi o dinheiro mais caro que eu já peguei emprestado, paguei uma multa gigante.”

“O Unibanco estava procurando uma empresa de call center à qual se associar. Aí nos reunimos com o conselho do banco. Estariam lá o [Jorge] Bornhausen, o [Tomas] Zinner e o Pedro Moreira Salles. O Urquiza, meu sócio, me pediu uma semana inteira para eu não falar palavrão. Na reunião, comecei: `P*** que o pariu! C******! Meu sócio está há uma semana me pedindo para não dizer palavrão. Esse filho da p*** veio até aqui falando na p**** do meu ouvido. Senhores: se formos sócios, vocês vão ouvir muito palavrão. Gargalhadas gerais. No fim, o Pedro Moreira Salles falou: `Tchau, sócio.”

“Tenho dois amigos bem palhaços. Álvaro Garnero, primo da Astrid [Monteiro de Carvalho, com quem Accioly teve um filho após um relacionamento de uma noite], e meu querido Aécio Neves. A única pessoa que sabia que eu tinha tido algo com a Astrid era o Aécio. Abro uma revista de fofoca e vejo a Astrid numa matéria enorme com o Antônio [filho de Accioly que foi criado até 1 ano e três meses pelo então marido de Astrid, o empresário Marcos Campos]. Nesse dia, o Aécio me liga: `Já viu seu filho na revista?’. Eu falei: `Ah, Aécio, vai se f****!’. Um mês depois, primeiro de abril, toca o celular. Era o Álvaro Garnero, que estava em Lisboa. Ele me disse: `Cagada geral. Se tocar o telefone, não atende. A Astrid reuniu a família inteira e disse que o Antônio é seu filho!’. Quando ele falou aquilo, parecia tão verdade… E então ele começou a rir e eu ouvi a risada do Aécio no fundo. Eu não tinha me tocado que ele também estava em Portugal.”

“Fui fazer um jantar para o Boni, que entende tudo de vinho. Eu vou fingir que entendo? Comprei o vinho mais caro, que aí não tinha como errar. Eu aplico isso na vida.”