Quem é o monsenhor que motivou a resposta do papa sobre homossexuais

Atualizado em 30 de julho de 2013 às 16:30

Battista Ricca, diretor do Banco do Vaticano, é acusado de fazer parte do célebre “lobby gay”.

Ricca e o papa
Ricca e o papa

A entrevista em que o papa falou sobre os gays teve enorme repercussão. “Se uma pessoa é gay e procura Jesus, e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”, disse. Ganhou a simpatia das organizações de direitos dos homossexuais e abriu espaço para uma discussão fundamental. A pergunta foi da correspondente da Globo em Roma, Ilze Scamparini. Ilze fazia uma referência a um escândalo sexual envolvendo o monsenhor Ricca, que faria parte do célebre “lobby gay”.

Ele foi tema de capa da revista italiana L’Espresso de duas semanas atrás. Battista Ricca foi promovido, em 15 de junho, a prelado do Instituto para Obras Religiosas, mais conhecido como Banco do Vaticano. Sua função, entre outras coisas, é supervisionar o conselho de administração e “limpar a casa”.

Aos 57 anos, o italiano Ricca fez carreira diplomática na igreja. Começou na diocese de Brescia e conheceu Francisco quando este ainda era arcebispo de Buenos Aires.

Segundo a L’Espresso, o papa ficou sabendo de episódios complicados da vida de Ricca uma semana após nomeá-lo. Nos anos 90, em Berna, capital da Suíça, Ricca ficou amigo de um capitão do exército, Patrick Haari. Em 1999, ao se mudar para Montevidéu, Ricca pediu que Patrick ganhasse residência e um cargo na nunciatura local. O pedido foi negado. Com a aposentadoria do núncio, Ricca assumiu interinamente o cargo e pôde dar-lhe uma posição regular e um salário.

De acordo com a revista, os dois seriam amantes. Em 2001, Ricca teria sido agredido no Bulevar Artigas, ponto de encontro de homossexuais em Montevidéu. Voltou com o rosto inchado. Em Roma, diz o autor Sandro Magister,  ficou preso num elevador com um garoto de programa. Os bombeiros os tiraram de lá.

Ricca foi transferido para Trinidad e Tobago. Haari foi, finalmente, afastado. Em 2004, Ricca foi para o Vaticano, onde iniciou uma segunda carreira bem sucedida na secretaria de estado. Galgou postos até que, em 2012, assumiu como conselheiro de primeira classe da nunciatura.

Ali ganhou reputação de moralizador. Ficou poderoso graças a uma rede de relações com os níveis mais altos da hierarquia católica no mundo todo.  Diz a publicação: “Por causa das muitas pessoas que sabiam sobre seu passado escandaloso, a notícia da promoção virou causa de extrema amargura, pois era vista como um mau presságio para a árdua empresa do papa Francisco nas obras de purificação da Igreja e da reforma da Cúria Romana”.

O Vaticano chamou a reportagem de “não confiável”. A publicação rebateu que confirma ponto a ponto o que está escrito e que se baseou em fontes primárias.

Se o monsenhor for mesmo gay, isso não tem nada a ver com sua capacidade de gerir um banco. Em sua resposta para Ilze, no avião, Francisco falou o seguinte: “Fiz o que o direito canônico pede. A investigação prévia. E não encontramos nada do que acusam. Não encontramos nada.”