Regina Casé, o dançarino DG e os 22 mil jovens negros mortos por ano no Brasil

Atualizado em 28 de novembro de 2014 às 9:44
Regina Casé e o dançarino DG
Regina Casé e o dançarino DG

 

A apresentadora Regina Casé, do “Esquenta”, respondeu às acusações da mãe do dançarino DG, assassinado numa viela. Num vídeo que viralizou, Maria de Fátima chamou Regina de “mentirosa”, “farsante” e “cretina”, além de falar que foi proibida nos bastidores de abordar a ação da polícia.

Regina ficou “triste e perplexa”. “Quando fizemos um programa de despedida, foi de coração, recebemos todos os convidados desse dia com o mesmo cuidado de sempre”, escreveu no Facebook. “A minha história sempre foi de luta contra o preconceito, a desigualdade e as injustiças sociais, mas ela sempre foi também de respeito à transparência e à verdade.”

Ainda que Maria de Fátima esteja cometendo uma injustiça completa, uma coisa é inegável: jovens da periferia, como DG, servem, sobretudo, de figuração para Casé. DG serviu para dar audiência, vivo ou morto. Deveria ser assim?

Como já apontou nosso colunista Marcos Sacramento, o “Esquenta” apresenta uma versão estilizada da favela, com negros fazendo o papel de negros — sambando, usando gírias, vestindo roupas de negros — na televisão. Regina vive desse pobrismo.

Se ela realmente se importa em lutar “contra o preconceito, a desigualdade e as injustiças sociais”, se ficou chocada com o que aconteceu a DG — e não há razão para crer que não tenha ficado –, poderia se manifestar contra a matança cotidiana na periferia. Periferia esta que é a estrela de seu show.

A seção brasileira da Anistia Internacional divulgou dados alarmantes. Em 2012, 56 mil pessoas foram mortas no país. Destas, 30 mil são jovens entre 15 a 29 anos e, desse total, 77% são negros. A maioria dos homicídios é praticado por arma de fogo, e menos de 8% dos casos chegam a ser julgados. Esse é o mote de uma nova campanha.

Os Estados Unidos estão enfrentando protestos violentos por causa da morte suspeita de Michael Brown em Ferguson, no Missouri. O policial que atirou em Brown foi inocentado no início da semana.

Dada a frequência, esse tipo de ocorrência foi completamente banalizado aqui. “A indiferença da sociedade com tantas vidas perdidas é uma das nossas maiores vergonhas”, disse Atila Roque, diretor executivo da Anistia Internacional, ao Brasil 247. “Todas as mortes representam uma tragédia e uma perda irreversível. A sociedade tem um papel estratégico na pressão para que esta realidade mude”.

DG é um a mais. Regina Casé, obviamente, não é culpada pelo que lhe aconteceu. Mas, já que garante se preocupar com o mundo que explora todos os domingos, talvez devesse encarar esse drama de outra maneira que não colocando seus convidados da “comunidade” para sorrir e tocar pandeiro. A vida real não deveria ser tão diferente do Projac.