Renan enterra de vez o mito de Temer como político hábil, vendido pela mídia. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 5 de abril de 2017 às 16:33
Impopular, populista e inábil
Impopular, populista e inábil

 

Um dos mitos sobre Michel Temer, cultivado ao longo do processo de impeachment, era o de que se tratava de um político hábil, afável, inteligente — o antípoda da titular.

Elio Gaspari, entre outros cronistas, o definiu como “experiente, frio”, e conhecedor do “lado do avesso de Brasília”.

De Eliane Cantanhede a Ricardo Noblat, as supostas virtudes negociadoras do ex-vice decorativo foram cantadas aos quatro cantos, vendendo um Richelieu.

O rompimento com Renan Calheiros, cúmplice de décadas, veio enterrar de vez essa balela.

Temer sempre foi um operador de bastidores, viabilizando e distribuindo o butim do PMDB. Na presidência, continuou fazendo isso, além de cumprir com o serviço sujo dos patrocinadores do golpe no sentido de destruir o legado dos programas sociais do governo do qual participou.

Numa tentativa de parecer superior ao desprezo da população, assimilou o mote patético sugerido por Nizan Guanaes e passou a se defender: preferia ser impopular a populista.

Renan, que é qualquer coisa, menos bobo, está de olho nas eleições de 2018 em seu estado e não quer ficar ao lado de um presidente cuja popularidade despenca a cada pesquisa.

De que adianta um cargo para um apaniguado e outros favores se o homem é um tronco de enchente? Entre Temer e Lula, que cresce nas pesquisas, com quem ele gostaria de ser fotografado?

Michel, o habilidoso, o gênio da articulação, é refém de um detento, Eduardo Cunha, e da corriola da formação original de sua banda — Romero Jucá, Eliseu Padilha, Rodrigo Maia, Moreira Franco.

O jantar dos senadores governistas do PMDB na casa de Katia Abreu escancarou ainda mais a situação.

“Diziam que a Dilma não sabia onde ia, e o Temer não tem para onde ir”, tripudiou Renan. Dos 22 da bancada no Senado, doze estavam lá, mais Sarney e a filha Roseana.

“Na fritada de aratu, Temer também foi fritado”, falou um dos senadores.

Renan, o porta voz da insatisfação, pontuou que “estão nos propondo um suicídio” com as reformas. Sarney acha que Temer “tem que dialogar mais”.

Segundo o Valor, Michel escalou aliados para procurar “conter a ira” de Renan Calheiros. Tem medo de que as críticas contaminem a base de apoio e prejudiquem o andamento das reformas.

No meio tempo, enquanto o chão esfarela, MT vai disparando suas asneiras. “Deus me deu a graça de reconhecer o valor das mulheres”, discursou o cidadão que elogiou o sexo feminino pela capacidade de ver o preço da manteiga sem sal no supermercado.

A única saída para o caos é diretas já. Michel Temer, o homem que sabe da “mecânica de suas obras e suas pompas”, de acordo com Gaspari, não consegue combinar o jogo nem sequer com seus amigos, que dirá com os inimigos.