Roberto Requião é, provavelmente, o último petista da vida real. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 6 de agosto de 2015 às 15:41
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O senador Roberto Requião, do PMDB do Paraná, é provavelmente o último petista vivo. Tem sido uma voz contra o golpismo, colocando-se ao lado de um governo calado e sem ação.

Apela frequentemente para a fanfarronice e o histrionismo, mas não tem medo de ir para cima quando julga preciso.

Há dias, no lançamento do livro “Cultura do silêncio e democracia no Brasil: Ensaios em defesa da liberdade de expressão”, falou de Sérgio Moro — a quem admira — e criticou a prisão de José Dirceu.

“Dirceu cumpre pena domiciliar pela condenação da AP 470, logo ele não poderia ser preso. No máximo seria uma condução coercitiva para depoimento em Curitiba”, afirmou. “É um espetáculo para a mídia”.

Declarou que Moro votou em Dilma, o que tem todas as chances do universo de ser uma mentira. Afirmou, por fim, que coloca a mão no fogo pela presidente.

O impeachment, acha ele, não interessa a Cunha. “O partido de Eduardo Cunha chama-se Eduardo Cunha. Cunha não vai facilitar nada para o PSDB tomar o poder”, diz.

Classificou a comitiva de senadores oposicionistas que foi à Venezuela de “usar a viagem partidariamente”. Ronaldo Caiado costuma apanhar gostoso de Requião.

Quando Caiado usou politicamente uma cubana do Mais Médicos que queria encontrar o namorado na Flórida, tascou: “Quer encontrar seu namorado? Procure o Caiado. Deputado é consultor amoroso de cubanos”.

Acha que o ajuste de Levy foi um tiro no pé. Sua briga com a Globo é antiga. “Na homenagem à Globo tinha muitos leitõezinhos vesgos, mamando na teta do PT de olhinho na dos Marinhos?”, escreveu no Twitter a respeito da recente sessão de sabujice dos parlamentares nos 50 anos da emissora.

Numa entrevista, deu sua versão para a briga. “Em visita de Lula ao Paraná, contei a ele, então presidente, sobre a TV Educativa e o fato de cortarmos toda a verba publicitária para a grande mídia”, afirmou. “O ‘erro brutal’ do governo foi acreditar que abastecendo os meios tradicionais de comunicação com dinheiro teria apoio e tranquilidade. Os interesses da mídia estão muito acima do que o estado pode pagar”.

Compare com a atitude do ministro Aloizio Mercadante, da Casa Civil, que se manteve quieto nos últimos sete meses até resolver, na quarta passada, elogiar as “experiências importantes” do PSDB.

“Eu senti uma oposição fiscalizando, cobrando, exigindo, mas muito elegante no debate”, prosseguiu Mercadante, talvez se referindo à Islândia ou à Nova Zelândia, uma semana após o ataque ao Instituto Lula.

Requião não é santo, evidentemente, e tem sobre a cabeça, por exemplo, acusações de nepotismo em seus oito anos de mandato no Paraná. Já vinculou a ocorrência de câncer de mama em homens às paradas gays. “Para evitar a extinção da espécie pelo menos 50% dos homens e mulheres deveriam compor a COTA de casamento hetero”, escreveu dia desses.

RR, é certo, tem uma licença para falar que a administração petista não tem — por diversas razões, do famoso e inexplicável republicanismo ao puro e simples medo.

É igualmente corajoso e irresponsável. Num momento em que a pancadaria come solta e o silêncio do governo é ensurdecedor, está sobrando no cenário como o derradeiro petista da vida real.