Se o PSDB tem sua Madame Bovary, é José Serra

Atualizado em 17 de outubro de 2014 às 17:32
That's the question
That’s the question

 

Serra falou em bovarismo num evento da Juventude do PSDB em São Paulo. Fazia uma crítica do partido, que dividiu em quatro capítulos: regionalismo, mercadismo, colunismo e o supracitado bovarismo.

O que ele quis dizer? Segundo Serra, o PSDB “tem necessidade de ser aceito pelo PT”. Ele explicou: “Que me desculpem as mulheres, pois a coisa é mais complexa do que isso. Mas o problema da Madame Bovary é querer ser aceita pelo outro lado. Ela vai à loucura, quebra a família e trai o marido com Deus e todo mundo para ser aceita. O PSDB tem um pouco do bovarismo”.

Serra ilustrou sua tese com a reação ao leilão de Libra. “Eles fazem um leilão mal feito, como o do Campo de Libra. O que faz o PSDB? Sai dizendo: ‘Olha aí, eles falaram que eram contra a privatização, mas estão fazendo’. Isso dá voto? Nenhum.”

Madame Bovary, a heroína de Flaubert, foi influenciada pelos romances que lia. Procurou se libertar de sua vida medíocre. Acaba se envolvendo com vários homens. É uma tola que arruina sua família. Com o tempo, a psicologia se apropriou do conceito de bovarismo e ele passou a servir para, de acordo com um dicionário de termos literários, “certos tipos de atitude neurótica em que o indivíduo, desprovido de autocrítica, imagina-se diferente do que ele é.”

Um dia depois de atacar o partido dessa maneira, Aécio pediu:”Vamos deixar o Serra falar”. É uma maneira paternalista de lidar com o tio do pavê do PSDB, o cara que fala as bobagens na festa de Natal e a família finge que ri.

Nesse caso, o tio do pavê fez um bom achado, mas ele se aplica, na verdade, ao próprio Serra.

Não há realidade capaz de fazê-lo repensar o papel que se auto outorgou, de salvador da pátria de seu partido e, em última instância, do Brasil. O bovarismo de Serra é o que o impede de procurar um sucessor, ou algo que o valha, ou parar de sabotar e chantagear Aécio Neves. Como a heroína de Flaubert, JS vive num mundo de fantasia.

A dupla Aécio-Serra só encontra parentesco em termos de desencontro nos atrapalhados Roberto Carlos-Caetano Veloso. Na hora de expirar, Aécio ainda vai se lembrar de seu arqui-inimigo antes de repetir as últimas palavras de Flaubert: “Eu estou morrendo, mas aquela puta da Madame Bovary viverá para sempre”.