Sepp Blatter simboliza o ódio justo que o mundo sente da Fifa

Atualizado em 27 de outubro de 2014 às 13:21
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A Fifa soltou um comunicado oficial sobre as manifestações de sábado, dia 25. Declarou que “respeita totalmente o direito de as pessoas protestarem de forma pacífica, sempre que os direitos dos demais também forem respeitados”. Prossegue: “Mas condenamos qualquer forma de violência”.

É muito provável que o Brasil pegue fogo antes e durante o torneio, e não adianta a Fifa, através de seus dirigentes, arriscar uma postura olímpica quando ela tem uma parcela enorme de culpa pela insatisfação. Ela é, não por acaso, uma das entidades mais odiadas do mundo.

Saiu no último dia 22 o resultado do Public Eye Awards, que elege as companhias mais irresponsáveis do planeta. A votação é aberta. O primeiro lugar ficou com a petrolífera Gaz Prom por causa da extração de petróleo numa área protegida do Ártico. O segundo, com a marca de roupas Gap.

O terceiro é da Fifa. Segundo os organizadores da premiação, a entidade “contribui com a violação de vários direitos humanos, como o direito à moradia adequada e à livre circulação”.

Joseph Blatter, o presidente, é a personificação desses defeitos. Com seu estilo napoleônico, imperial, Blatter está sentado no topo de uma máquina que faturou 89 milhões de reais em 2012 e que é isenta de impostos porque vista como não tendo fins lucrativos.

“O futebol tem o poder de construir um futuro melhor”, ele gosta de dizer, emendando que o trabalho da Fifa é “ajudar comunidades carentes” porque ela “tem um dever para com a sociedade”.

Não há nenhuma estatística que sustente esse tipo de afirmação. Poderia haver. Por que não contratar um instituto de pesquisa, digamos, para fazer um levantamento?

Porque não interessa. Em 2011, o tabloide inglês ‘The Sun’ publicou na capa uma foto de Blatter ao lado de outra de Gadaffi. A manchete: “Encontre a diferença — dois ditadores sem noção tentam se manter no poder enquanto seus regimes corruptos desmoronam em torno deles”.

Blatter já admitiu que ganha em torno de 1 milhão de dólares. Está no cargo há 16 anos. Na Fifa, há 38. Em sua opinião, o esporte que comanda tem um papel fundamental na “educação básica, na formação do caráter e no espírito de luta, aliado com o respeito e a disciplina”.

Balela. A tática de se eximir de responsabilidades ou se auto-atribuir importância, dependendo do caso, é velha conhecida. Quando o Catar foi anunciado como sede em 2022, Blatter foi consultado sobre que conselho daria a torcedores gays que quisessem assistir a uma partida no país, onde a homossexualidade é crime. “Eu diria que eles devem conter suas atividades sexuais”, foi a resposta.

Seu possível sucessor, Jerome Champagne, é um diplomata de carreira que morou dois anos no Brasil. Champagne quer melhorar a imagem da Fifa com medidas como equilibrar o poder dos países decisores (os europeus mandam) e discutir o sistema de comissionamento — o “por fora” que os executivos recebem.

“Futebol para todos, todos pelo futebol”, é o lema civilizatório de Blatter. Escapou de todas as denúncias de corrupção, entre outros motivos, porque a empresa resiste a qualquer intervenção de fora. Além disso, há uma cumplicidade de federações, jogadores e patrocinadores que não pressionam jamais por qualquer mudança.

“Eu não consigo imaginar nenhuma instituição mais protegida da corrupção do que a Fifa”, disse Andrei Markovits, professor de ciência política da Universidade de Michigan, autor de livros sobre futebol. “É uma sociedade fechada, completa, um exemplo literalmente perfeito de oligarquia. E que tem mando sobre um produto que é completamente independente de suas ações. Mesmo se esses caras forem molestadores de crianças ou assassinos em massa, as pessoas não vão parar de assistir futebol”.