Sobre o artigo em que Mino Carta declara apoio a Dilma

Atualizado em 15 de julho de 2014 às 18:42
Nada a objetar
Nada a objetar

Causou um certo alarido dias atrás, na comunidade jornalística, um texto de Mino Carta em que ele declarava apoio a Dilma.

Com sua habitual elegância estilística, Mino ponderou que fatalmente as duas candidaturas oposicionistas mais fortes atrairão o que existe de mais reacionário no país.

Mino falou, especificamente, dos barões da imprensa. Mas é claro que a lista dos interessados em que o relógio volte, e com ele antigos privilégios e velhas mamatas, vai muito além.

O que as pessoas se perguntavam é se Mino não estaria infringindo alguma lei sagrada do jornalismo.

Não, não estava.

Mino estava apenas sendo honesto e transparente. E seguia uma prática comum no jornalismo americano: declarar, em editorial, apoio a algum candidato.

Quem conhece Mino Carta sabe que não existe risco nenhum de o noticiário da Carta Capital sofrer qualquer tipo de adulteração ou manipulação por conta da escolha.

Isso quer dizer o seguinte: a Carta Capital não vai inventar fatos que favoreçam Dilma e prejudiquem Aécio ou Eduardo Campos.

É simplesmente zero, igualmente, a possibilidade de que uma pesquisa encomendada pela revista seja maquiada para promover Dilma.

O apoio não funciona como nada além de uma recomendação aos leitores. É como se a revista dissesse: “Caso interesse a vocês, esta é minha posição. Se não interessar, um abraço.”

É uma atitude adulta, e que contrasta com a falsa neutralidade presente no restante da mídia, que tenta vender aos leitores uma mercadoria falsa: a isenção. A Folha chega às vezes a publicar a centimetragem dedicada a cada candidato, como se espaço – e não tom – provasse equidistância.

Compare a Carta Capital com a Veja na postura diante dos candidatos. Na mesma semana do artigo de Mino, a  Veja publicou uma reportagem na seção de política que dizia o seguinte sobre Aécio: “Conhecê-lo é amá-lo.”

É mesmo?

Segundo a Veja, sim. A suposta prova disso estaria na baixa rejeição de Aécio. Claro que para Dilma o parecer era o oposto: conhecê-la, para a Veja, é não amá-la.

A Veja conhece e ama Aécio faz tempo.

Nas eleições de 2010, entre o primeiro e o segundo turno, quando era uma barbada a vitória de Dilma sobre Serra, a revista deu uma capa com Aécio.

Nela, avisava que Aécio decidira se engajar definitivamente na campanha de Serra. Até ali, desgostoso depois de perder a indicação no PSDB, ele pouco fizera por Serra em Minas.

Sensacionalmente, a revista informava seu leitor:  a história mostrava que candidato que ganhasse em Minas ganhava a presidência.

Isto queria dizer, segundo a lógica da Veja, que se Aécio fizesse Serra ter mais votos entre os mineiros que Dilma, a presidência seria dele.

Deu no que deu.

Como prática jornalística, a da Carta Capital é mais íntegra. Se, repito, a Carta Capital apenas faz uma recomendação, e logo retorna ao noticiário como ele é, a Veja tenta induzir o seu leitor com argumentos nem sempre conectados com a realidade.

Uma revista expõe sua opinião e, a despeito dela, preserva seu jornalismo. A outra não declara abertamente sua preferência, mas ela existe e é tão forte que transforma o jornalismo em panfletagem disfarçada.

A atitude da Carta Capital não apenas é defensável como louvável, pela honestidade de intenção envolvida nela.

A da Veja — e  seu modelo é seguido em diferentes medidas por toda a grande mídia – é, numa palavra, indefensável.