Tacla Durán diz ter provas de que Juca Bala, doleiro de Cabral, não é o cabeça do esquema na Odebrecht

Atualizado em 26 de dezembro de 2017 às 10:53
Juca Bala

Numa das reportagens da série sobre a indústria da delação premiada, crowdfunding do DCM e do GGN, Joaquim de Carvalho e Luis Nassif escreveram sobre os doleiros da Odebrecht que omitiram informações em seus acordos de colaboração.

Luiz Augusto França, Marco Bilinski e Vinicius Borin são peixes graúdos no mundo das empresas offshore. Os procuradores só cobraram dos três a multa de R$ 3,4 milhões de reais. Estima-se que receberam comissões da ordem de 96 milhões de dólares.

Borin contou que Vinícius Claret, o Juca Bala, recebia o dinheiro do esquema no Uruguai. Preso naquele país desde março, ao lado do sócio Cláudio Fernando Barbosa, o “Tony”, Juca chega ao Rio de Janeiro essa semana, sob escolta da Polícia Federal, para fechar um acordo de delação com os procuradores da Operação Calicute, versão da Lava Jato no Rio.

Entenda o papel dele:

Em sua delação, Vinícius Borin aponta o que seria o caminho do dinheiro sujo da Odebrecht. Borin diz que a Odebrecht fazia transferências para offshores dos sócios do Meinl Bank, incluindo ele próprio, e estes, depois de ficar com a comissão de 2%, encaminhavam os valores para empresas do advogado Rodrigo Tacla Durán no exterior. Este remetia os recursos para Vinícius Claret, o Juca Bala, no Uruguai.

Juca tem uma loja de surfe em Punta Del Leste, a Paddle Boards Uruguay, mas é só fachada. Ele é conhecido por suas operações de lavagem de dinheiro no Brasil. Juca Bala tem um esquema que faz chegar até o endereço indicado cédulas de real, transportadas por carro forte.

O esquema foi descoberto na investigação envolvendo ex-governador Sérgio Cabral. Tacla Durán nega participação nesse esquema, mas sabe que ele existe. E mais: ele tem provas de que Juca Bala não é o cabeça do esquema. Ele trabalha para Darío Messer, apontado como o maior doleiro do Brasil e antigo conhecido do juiz Sergio Moro. Messer apareceu no escândalo do Banestado, como grande operador, mas conseguiu se safar.

Messer nasceu no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro, e seu pai é paraguaio — por isso, ele tem cidadania paraguaia. No país vizinho, tem grande influência política. Seu pai foi amigo do atual presidente,  Horácio Cartes. O combativo e influente jornal ABC Color, de Assunção, publicou reportagem sobre essa proximidade.

A relação entre os 2 viria dos anos 1980. O pai de Darío Messer, Mordko Messer, teria acolhido Cartes “afetiva e economicamente” quando o político tentava se livrar de acusações de evasão de divisas naquela década. Hoje, segundo o jornal, Darío Messer é como um irmão para Cartes, conhecido também HC. Messer, por sinal, depois que estourou a Lava Jato, teria transferido residência para o Paraguai.

O nome de Messer não aparece na Lava Jato, da mesma forma como sumiu do caso Banestado, que morreu na jurisdição de Moro. Estas são linhas de investigação que devem ser perseguidas para conhecer efetivamente o submundo do caixa 2 no Brasil. O que está na superfície é glamouroso.

Borin e seus dois sócios trabalharam durante anos com Adir Assad, no Trend Bank, onde a lavagem de dinheiro era feita através de patrocínio em eventos automobilísticos.

Assad chegou a ser intimado para depor no FBI quando Hélio de Castroneves foi processado por sonegação de impostos, há alguns anos. Castroneves tinha patrocínio de empresas indicadas por Assad, mas ficava com 10% do valor pago.

O restante era devolvido, em contas de empresas de paraíso fiscal, para a formação de caixa 2.

A Indy teria sido usado com esta finalidade por diversas empresas, como o próprio Banestado e corruptores notórios, como a Bauruense, cujo dono, Airton Daré, tinha um filho que disputou campeonatos da categoria, o Darezinho. A Baruense, protegida de Aécio Neves, foi uma das maiores fornecedoras de serviços da estatal Furnas.