“Temer deve fazer o que Dilma faria: um plebiscito sobre sua permanência”, diz Suplicy. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 8 de setembro de 2016 às 8:41
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Eduardo Suplicy é um dos entrevistados da semana no programa do DCM na TVT (o outro é o jornalista e escritor Fernando Morais, encontro sobre o qual já falei aqui).

Aos 75 anos, Suplicy tem uma vitalidade invejável. Não tem saído muito da rua. Em julho, participou de um ato contra uma reintegração de posse na região da rodovia Raposo Tavares. Deitou-se no chão e foi carregado pelos policiais.

Tem marcado presença em todos os protestos em São Paulo contra o governo Temer. No domingo, dia 4, depois da manifestação, fez plantão na delegacia até 18 dos 26 jovens presos pela PM serem soltos.

Suplicy nos recebeu na biblioteca de sua bonita casa, localizada atrás do shopping Eldorado. Falou, inevitavelmente, da renda mínima, sua obsessão, da ex-mulher Marta, agora peemedebista desde criancinha e fã de Janaína Paschoal, de José Serra e da dificuldade que teve em fazer com que Dilma o recebesse (o que aconteceu apenas quando ela foi afastada, após quatro anos de tentativas frustradas).

Secretário de Haddad, candidato a vereador, Suplicy acredita que só há uma maneira de Temer pacificar o país: “Seguir a recomendação que Dilma fez para ela própria, ou seja, consultar a população para ver se ela deseja ou não que ele permaneça. Se o povo disser que sim, ele terá legitimidade. Se o povo disser que não, deve ele convocar nova eleição presidencial, como o teria feito Dilma”.

Suplicy fez alguns apelos públicos dirigidos a senadores para que eles votassem contra o impeachment. Um deles foi endereçado à sua ex-mulher, Marta. Deu em nada.

A nova encarnação da velha Marta, aliás, quer ser chamada apenas pelo primeiro nome. Ele ficou decepcionado com o voto dela pelo golpe?

“Sinto muito pela decisão dela. Eu escrevi uma carta mais pormenorizada para ela, falando de tudo o que representou a nossa vida dos ideais comuns no Partido dos Trabalhadores. Não vi ela dizer que Dilma tenha cometido qualquer ato de enriquecimento, e ela é testemunha disso muito mais do que. Ela tem consciência de que não houve crime de responsabilidade”, afirma.

Segundo Suplicy, desde que ela foi para o PMDB as discussões sobre política do casal foram rareando. No processo do impedimento, cessaram. Há uma convivência civilizada. A família é grande. Suplicy vive com o filho João, músico.

Reuniu-se com Romário para ver se o convencia a votar contra o impedimento. O Baixinho era o falso indeciso. Queixou-se que Temer não lhe oferecia nenhum cargo. “Dias depois, ele ganhou a indicação para a diretoria de Furnas”, diz Suplicy.

Ele perdeu a vaga no Senado para José Serra. O Careca sempre se referiu a Suplicy com o escárnio que devota a, basicamente, todos os seus adversários (e amigos).

É o sujeito que ajudou a espalhar a fama de Aécio de “cheirador” e chamou Marina Silva de “picareta”. De maneira elegante, sem adjetivos, Suplicy ilustra o modus operandi de Serra.

A derrota, depois de 24 anos no Senado, não desceu fácil. Segundo ele, Serra fugiu dos debates. “Ele preferiu não debater comigo”, conta. Em setembro de 2014, o Coronel Telhada, do PSDB, denunciou que Suplicy havia forçado uma mulher a fazer uma acusação de estupro. Fez um estrago mortal em sua campanha. Vencido, deu os parabéns a Serra. Pouco depois, a retribuição: “Ele ligou porque queria o gabinete antes de eu terminar meu mandato”, diz Suplicy. “Pediu que deixasse ali pelo dia 20”.

Suplicy negou. Não era pressa. Serra sempre teve consciência de que o prazo para a saída dos senadores era 31 de janeiro de 2015. Foi para espicaçar. Essa é a mesquinharia serrista em seu pequeno esplendor.

Abaixo, alguns trechos da entrevista. Eduardo Suplicy não cantou “Blowin’ in the Wind”.