Um inferno chamado Chechênia

Atualizado em 19 de abril de 2013 às 11:15

Os irmãos suspeitos do atentado de Boston são de uma região vizinha à Chechênia, que vive um conflito sem fim com a Rússia.

Uma cena da Chechênia, palco de uma guerra interminável
Uma cena da Chechênia, palco de uma guerra interminável

A polícia americana acaba de informar que um dos dois suspeitos dos atentados em Boston está morto. É o que aparece de boné escuro nas fotos divulgadas pelo FBI. O segundo suspeito, de boné branco, está sendo procurado.

Os dois são irmãos: Dzhokhar Tsarnaev, de 19 anos, e Tamerlan Tsarnaev, 26, morto pelos policiais. Eles viviam há vários anos nos Estados Unidos, e nasceram no Daguestão, vizinho da região separatista russa da Chechênia, um barril de pólvora há muito tempo. Material encontrado pela polícia mostra que os dois eram devotos da causa chechênia.

Segundo a polícia, os irmãos roubaram um carro e foram perseguidos. Em Watertown, perto de Boston, ele teriam jogado explosivos contra os policiais. Houve troca de tiros, e Tamarlan acabou morrendo mais tarde no hospital.

A BBC montou, há alguns anos, um bom quadro de Perguntas e Respostas sobre a Chechênia que ajuda a compreender o tamanho do conflito da Chechênia, região da qual você ouvirá muito nos próximos dias. Você pode ler trechos abaixo, acrescidos de outras fontes mais recentes de pesquisa:

Quando começou o conflito na Chechênia?

A Chechênia declarou-se independente da Rússia em novembro de 1991, mas o então presidente russo, Boris Yeltsin, esperou até 1994 antes de enviar as tropas para restabelecer a autoridade de Moscou sobre o território.

Esta primeira guerra na Chechênia resultou numa humilhante derrota das tropas russas em 1996.

No dia 1º de outubro de 1999, o primeiro-ministro russo (mais tarde o presidente) Vladimir Putin lançou uma nova ofensiva contra os rebeldes, iniciando uma operação “antiterrorista” parcialmente em resposta a uma série de atentados a bomba em prédios de apartamentos em Moscou e outras cidades, que Putin atribuiu aos separatistas.

O que os chechenos querem?

A independência.

 Qual o status atual da Chechênia?

Ela é uma das 21 repúblicas que  compõem a Federação Russa. O status de república é o maior nível de autonomia possível: a Chechênia tem o direito de promover sua própria língua como oficial em todo seu território, manter bandeira e símbolos locais, além de estabelecer constituição própria.

 Isso não é o suficiente?

Mesmo com tamanha autonomia, a Chechênia é certamente o caso mais famoso de luta separatista na Rússia desde o colapso da União Soviética em 1991.

Qual suas principais características históricas e geográficas?

Localizada no norte do Cáucaso, região plena de movimentos separatistas, a República da Chechênia tem uma área equivalente à do estado brasileiro de Sergipe.

Sua capital é Grozny, e a religião predominante é o islã da linha sunita, seguida por 94% da população.

Os conflitos datam de quando?

A Chechênia causa dores de cabeça aos russos há quase dois séculos. Durante a Segunda Guerra Mundial, a invasão nazista representou um vislumbre de liberdade do domínio de Moscou.

Quando a guerra terminou, Stalin acusou os líderes chechenos de colaboracionistas. Sua punição foi a deportação em massa para a Sibéria e Ásia Central. Eles foram autorizados a retornar somente em 1957, quando Khrushchev estava no poder no Kremlin.

E hoje, como estão as coisas?

Ambos os lados abusam de táticas violentas que desrespeitam os mais básicos direitos humanos.

Ações espetaculares de violência gratuita, atingindo mulheres, crianças e idosos em ambos os lados se repetem ano após ano, em meio a um clima permanente de tensão que ronda a área até hoje, pois as duas partes não parecem interessados em solucionar a questão por meio do diálogo.

Os rebeldes chechênios têm vínculos com a Al-Qaeda?

Especialistas acreditam que, muito provavelmente, sim. Há muito se sabe que voluntários muçulmanos viajaram para a Chechênia para lutar junto aos rebeldes. Segundo relatos, os voluntários teriam recebido treinamento em campos no Afeganistão e no Paquistão