Você investiria um tostão em um novo jornal impresso? Por José Eduardo Mendonça

Atualizado em 14 de maio de 2016 às 14:46

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Uma pessoa comum com dinheiro sobrando pensaria mais que duas vezes, mas não foi o que fez um império de comunicação inglês, Trinity Mirror, dono do Daily Mirror, jornal existente desde 1903 e hoje com circulação de 800 mil exemplares.

O grupo tem 150 jornais no Reino Unido e Irlanda e mais de 100 websites com 120 milhões de visitantes únicos por mês.

No começo de maio anunciou o fechamento do The New Day, lançado no final de fevereiro com uma campanha de publicidade de U$ 7 milhões. O próprio nome da publicação vai ficar na história do jornalismo como uma triste ironia. Foi o primeiro jornal impresso a aparecer na Inglaterra em 30 anos.

O alvo eram mulheres de 30 a 45 anos e pessoas que haviam parado de comprar noticiário impresso recentemente. A expectativa de vendas era de 200 mil exemplares. Passou pouco dos 40 mil, num país com 65 milhões de habitantes.

O concorrente do Mirror, Daily Mail, também um tablóide sensacionalista, vende 1.6 milhão de exemplares. Mas seu site é visitado diariamente por 14 milhões de leitores de todo o mundo.

Em março, o Independent foi retirado das bancas e se restringiu a seu website. The Guardian, outra publicação séria, caminha para fazer o mesmo. “A concorrência era direta com os websites e acho que The New Day não tinha a menor chance”, comentou sobre o fechamento Steven Barnett, professor de comunicações da Universidade de Westminter.

Pode escrever à vontade. Textos longos são sucesso em smartphones

A mídia impressa no Brasil já vem há anos orientando seus repórteres a escreverem textos cada vez mais curtos, em parágrafos de três linhas.

É mais fácil de ler, argumentam. Só que em muitos casos, e para vários temas, ficam de fora informações, análises, comentários e contexto. E, claro, estilo.

A orientação ficou mais rígida com o surgimento dos websites e, mais notadamente, com a disseminação de informação via smartphones.

Um novo estudo sobre o leitor online, feito pelo Pew Research Center, examina a questão do tempo gasto com textos cursos versus longos e conclui: há espaço para leitura de matérias e artigos maiores. Na verdade, o leitor passa mais tempo nelas do que em textos sucintos.

Os pesquisadores passsaram meses estudando as interações anônimas de 117 milhões de celulares com 7.840 artigos de 30 websites no mês de setembro de 2015. Segundo eles, apesar da tela pequena e do multitasking, o tempo de envolvimento total de artigos de mil palavras ou mais foi o dobro daquele gasto com textos curtos: 123 segundos contra 57. Dois minutos parece muito pouco, mas é um tempo enorme para, por exemplo, uma notícia na TV.

Os resultados da pesquisa ficam mais interessantes quando se nota que o número de textos curtos é infinitamente maior. E intrigantes quando se revela que embora as mídias sociais sejam indutoras de tráfego responsáveis por cerca de 40 por cento de visitas de celulares a sites de notícias, gente que as lê através destes portais têm menor probabilidade de passar tempo lendo matérias longas. Você achou este texto comprido demais?

Um adeus à lealdade de marcas nas compras online

Esta lealdade está morrendo, segundo Ivan Mazour, presidente da Ometria, uma consultoria de varejo inglesa.

De acordo com ele, o que consumidores estão dizendo às empresas de bens de consumo é: mudem, ou meu dinheiro vai desaparecer.

Um novo estudo de comportamento de consumidores online feito pela Ometria mostra que 46% dos compradores vão abandonar suas marcas favoritas se não as entenderem mais. Ou seja, se não forem direcionadas a uma variedade de interesses, adoções e rejeições.

Não é mais sustentável fazer marketing no atacado se ferramentas inteligentes podem atingir um público como os consumidores por celular, que apenas nos EUA somam 121 milhões, diz a Marketing Magazine UK.

A necessidade de mudança é gritante no caso dos milenials. Cerca de 70% das pessoas entre 18 e 24 anos afirmam que não irão mais consumir marcas que não conseguirem personalizar seu marketing.

The New York Times, o desafio da sobrevivência online

Mashable, Vox, Huffington Post, BuzzFeed, Business Insider, Quartz, são empresas de informação que nasceram todas como empreendimentos online. Não é necessário falar do sucesso da primeira, mas todas seguem ativas, e a Business Insider foi adquirida pela gigante alemã Axel Springer por U$ 400 milhões, soma notável para uma aquisição de mídia online.

Mas onde ficam os dinossauros do papel, como o New York Times, que ao começar ao cobrar por seu conteúdo online em 2011 suscitou dúvidas sobre a viabilidade do negócio? Hoje tem 1.2 milhão de assinantes, e o maior crescimento desta base se dá fora dos Estados Unidos. A base de leitores da publicação encolhe, porém paulatinamente. A circulação ainda é de 600 mil exemplares e de 1.1 milhão no domingo.

Os resultados são muito bons, como disse em palestra no começo de maio na Conferência Digital Next, em Bogotá, Lydia Polgreen, diretora editorial da NYT Global. O faturamento da edição digital foi no ano passado de U$ 400 milhões, muito acima de qualquer concorrente. Mais importante, a maior parte desta receita veio de leitores, não de publicidade.

“Em 2015, os líderes da companhia estabeleceram a meta ambiciosa de dobrar a receita digital até 2020. A estratégia afirma implicitamente que o Times se considera primeiro um negócio de assinaturas e um negócio de publicidade baseado em uma audiência leal e engajada”, segundo ela. “Noventa por cento de nossa receita digital vem apenas de 12% de nossos leitores”.

“Esta relação próxima com os leitores mais leais é o coração de nossa estratégia jornalística e de negócios. A chave do sucesso é fornecer a nossos consumidores de notícias uma dieta constante de peças de jornalismo informaivas, atraentes, úteis e envolventes que não vão encontrar em qualquer outro lugar. Nada mais importa”.