Ladies & Gentlemen:
Fora partidas do Santos, tem-me sido difícil ver jogos do futebol brasileiro. Não por causa do fuso horário, mas pela ruindade dos times em geral.
Não bastasse o futebol tosco da grande maioria dos times, os gramados são ruins e as arquibancadas vazias transmitem um sentimento de desolação.
Me recupero de tanta droga vendo jogos europeus.
Meu time, o Man City, parece o futebol brasileiro tal como o conheci em minha adolescência.
Joga para a frente, sem medo. Ontem, contra o abominável United, estávamos ganhando e mesmo assim buscávamos mais um gol, e outro, e outro.
Acabamos fazendo três, em plena casa dos inimigos. Vi com Boss na tevê de nosso pub de Parsons Green, e foi tal o enlevo que nem percebi que tomei meia dúzia de pints, ou talvez oito, o que me trouxe hoje uma ressaca miserável.
Onde, no futebol brasileiro, um meio campista como Yaya Touré, o Zidane de ébano?
Em nenhum lugar, esta a verdade. E sabem por quê? Porque, se ele jogasse no Brasil, não haveria espaço para ele. Nos times brasileiros, meio campistas são homens feitos para destruir apenas, e não para construir.
Compare. Yaya Touré é o jogador mais prestigiado do City. No São Paulo, é Rodrigo Caio, o clássico perna de pau. (Nota da tradutora: wooden leg, no original.)
Por um momento, depois que o Santos levou aquele chocolate do Barcelona na final do mundial dos clubes, pareceu que os clubes brasileiros renunciariam às retrancas obsessivas. (Nota da tradutora: obsessive defenseness.)
Mas não.
Tudo ficou igual. A prioridade absoluta para os treinadores são jogadores que apenas defendem. Por isso os jogos são tão feios.
Yaya Touré seria encostado no Brasil. Talvez sequer chegasse aos profissionais e fosse detido entre os juvenis.
Tenho minhas dúvidas também sobre se Messi vingaria entre os times brasileiros.
Ladies & Gentlemen: em razão disso, reivindiquei a Boss ontem, no pub, um aumento para ver jogos brasileiros.
Ele prometeu me atender. Mas confesso que não sei se ele disse sim apenas porque, como eu, estava sob ação de várias pints.
Sincerely.
Scott
Tradução: Erika Kazumi Nakamura