1° de Maio, o que Bolsonaro quer que seja dia do escravo. Por Fernando Brito

Atualizado em 1 de maio de 2021 às 16:29
Jair Bolsonaro. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Originalmente publicado em TIJOLAÇO

Por Fernando Brito

Nem durante a ditadura, ao que eu me recorde, jamais tivemos um 1° de Maio tão triste como este.

Não só porque quase coincidiu com a sinistra marca de 400 mil mortos pela pandemia, não só porque ela nos impede de sair às ruas e aos parques, para comemorar o valor do trabalho humano, não só porque vivemos sob o governo de quem acha que mais vale o emprego – que não há – do que os direitos – que vão sendo retirados até dos que o tem.

Luta e festa, o 1° de Maio sempre teve um significado poderoso.

Mesmo com as manifestações sindicais – e os próprios sindicatos – controlados ou amordaçados, até à época do Governo Geisel reconhecia o simbolismo do dia: era a data do reajuste do salário mínimo, o que se perdeu depois que a inflação galopante que tornou inviável apenas um reajuste anual.

Os que éramos jovens, vimos as greves do metalúrgicos do ABC, em 78,79 e 80, no ABC Paulista irem restabelecendo, na marra e com repressão policial violenta, o direito de reivindicar uma vida melhor para os trabalhadores e parirem um a figura que encarnou este desejo por mais de 40 anos, Lula.

No Brasil de 2021, porém, o 1° de Maio é marcado por declarações de um presidente que vai assegurar aos ruralistas – prefiro o nome antigo, o de latifundiários, que nenhum deles será punido com a perda de sua propriedade se mantiver trabalhadores na condição de escravos em suas lavouras, como prevê a Constituição, numa emenda aprovada em 2014.

– Quando o momento se fizer oportuno, melhor, juntamente com a Tereza Cristina que está do meu lado aqui, nós devemos sim rever a emenda constitucional 81, de 2014, que tornou vulnerável a questão da propriedade privada. é uma emenda que não foi regulamentada e com toda certeza não será regulamentada em nosso governo, nós precisamos alterar isso que foi feito em 2014 tornando vulnerável a questão da propriedade privada.

Regredimos a uma situação inacreditável, em que o 1° de maio, o dia dos direitos dos trabalhadores, talvez tenha de mudar de data e ser comemorado no 13 de Maio, dia da abolição da escravatura, porque se aceita que eles sejam reduzidos a escravos em nome do mais atrasado agronegócio.

Ainda que, sobre o dia 13, andemos aqui na base da “bala perdida” em substituição à chibata.