10 coisas que você não sabe sobre transplantes. Por Pedro Carvalho

Atualizado em 22 de agosto de 2023 às 9:17
Fausto Silva. (Foto: Reprodução)

A entrada do apresentador Faustão na fila única de transplantes do SUS, à espera de um coração, gerou inúmeros comentários na web. Pedro Carvalho, que diz atuar na área por mais de 10 anos, apresentou pontos que não são conhecidos do grande público sobre o assunto. Confira a seguir:

A inclusão do Faustão na lista de transplantes do SUS está gerando muitas dúvidas e comentários equivocados. Seguem algumas informações posso dar após mais de 10 anos trabalhando diretamente nessa área

1- o Brasil tem o maior sistema de transplante do mundo. TODO NO SUS.

2- “Fila” é um termo inadequado. “Lista” é melhor. Por quê? Porque há uma série de critérios para se transplantar e a gravidade do paciente é o maior deles. Alguém que morrerá iminentemente sem o transplante será transplantada antes de uma pessoa mais antiga na lista.

Além disso, o doador pode não ser compatível (grupo sanguíneo, painel de anticorpos) com uma pessoa e aí vai rodando a lista até achar um receptor. Claro que para pacientes em mesma situação clínica, o tempo de espera é, obviamente, um fator de decisão.

3- A documentação do processo de doação é extremamente rígida: há cópias das equipes que conversam com familiares e das centrais estaduais e nacionais. Há testemunhas, cópias de documentos pessoais, etc. A família é colocada a par de tudo.

Órgão sendo levado para um transplante. Divulgação

4- A doação é anônima: uma família que opta pela doação, não sabe para quem vai doar. Isso garante a segurança dela e, principalmente, do receptor. Há como descobrir quem recebeu? Sim, mas não pelo sistema de transplantes.

5- Condições clínicas do receptor interferem na possibilidade de doação. Uma pessoa pode estar tão grave que não tem condições para suportar a cirurgia.

6- Existem muitas lendas urbanas sobre doação: pessoas encontradas mutiladas com órgãos retirados para doação SÃO MITOS. O processo só tem condições de acontecer em ambiente hospitalar.

7- Não façam ilações ou acusações irresponsáveis de furação de filas ou interesses escusos. É um processo extremamente delicado com profissionais que desgastam muito física e mentalmente para uma única doação acontecer (imagina trabalhar só com isso).

8- Apesar de ter o maior sistema do mundo, o Brasil tem número de doadores muito aquém do necessário e essas acusações interferem MUITO no processo de doação. Vcs não tem idéia do quanto ouvimos: “vimos na internet, vi na tv, etc.”

9- Último e mais importante: falem com suas famílias sobre seu desejo de ser doar, caso o pior aconteça. NÃO PRECISA ASSINAR DOCUMENTO. No Brasil, a família tem a decisão final, mas normalmente respeita-se a decisão da pessoa falecida.

10- Por fim, um exercício de empatia após ver muito gente dizer: “não quero doar pois pode haver muita coisa errada no sistema”. Ponha-se no lugar do outro: se fosse vc, precisando de um órgão para ficar vivo, tenho certeza absoluta que esperaria muito o “sim” de alguém à doação.

Publicado originalmente no perfil do Twitter do autor

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