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10 perguntas e respostas para entender a crise deflagrada pela queda do avião na Ucrânia

 

Há uma semana, o mundo acompanha com atenção os desdobramentos da queda do voo MH17 da Malaysian Airlines em solo ucraniano no último dia 16. Em meio a uma enxurrada de acusações entre Rússia, Ucrânia e Estados Unidos quanto a autoria do ataque que derrubou a aeronave e vitimou 298 pessoas, separamos 10 perguntas que precisam ser feitas – e respondidas – para se compreender a tragédia e suas consequências.

Como o avião foi derrubado?

A resposta definitiva só poderá ser dada pelos especialistas que investigam o caso. Contudo, três versões já foram levantadas. A primeira e mais debatida no momento considera que o MH17 foi abatido por um míssil terra-ar do tipo Buk, que tem capacidade de acertar alvos a 22 mil metros, o dobro da altitude em que o avião da Malaysian Airlines voava.

Outra versão suscitada é de que a aeronave teria sido derrubada por um caça ucraniano. Segundo o Ministério da Defesa da Rússia, um avião de combate do país vizinho foi flagrado por sistemas de controle do ar voando a 5 km do avião malaio. Por fim, não está de todo descartada a possiblidade da queda ter ocorrido por um problema na própria aeronave.

Os rebeldes pró-russos possuem o Buk? Quem possui esse tipo de armamento?

A versão sobre o uso de um Buk para abater o MH17 surgiu no mesmo dia do desastre e foi lançado pelo governo da Ucrânia, que culpou os grupos separatistas do país pela queda do avião. Porém, não existe comprovação de que os rebeldes detenham o equipamento. Na verdade, Rússia e Ucrânia são os únicos países envolvidos no conflito que possuem o Buk, armamento criado pelos soviéticos nos anos 1970.

Por que Washington foi tão rápido em acusar os russos de participação na queda do avião?

Se a relação entre Estados Unidos e Rússia nunca foi de muita amizade no período Putin, ela azedou de vez desde o início da crise na Ucrânia, especialmente após a anexação da Crimeia aos russos e a insurgência das províncias de Donetsk e Lugansk contra o governo central ucraniano. Desde então, Washington tem aplicado rodadas de sanções contra empresas e cidadãos russos com o intuito de isolar Moscou e forçar o fim de seu apoio aos rebeldes. Desta forma, uma possível ingerência da Rússia em um evento traumático cairia como uma luva para a estratégia do governo Obama.

Por que Moscou não fez o mesmo?

Longe de estar isolado no xadrez geopolítico – basta ver o recente fortalecimento dos BRICS – Putin não deve buscar a radicalização exacerbada do confronto com o Ocidente, sob pena de perder importantes acordos comerciais, especialmente com os países da União Europeia. Por outro lado, tal situação não impediu o presidente russo de culpar a Ucrânia pela queda do avião, justificada pelo acirramento das tensões no leste do país promovido pelo governo central.

Quem irá participar das investigações sobre o desastre?

As investigações estarão a cargo de um grupo de 24 especialistas de diferentes nacionalidades ligados à Organização Internacional de Aviação Civil (ICAO, em inglês), órgão das Nações Unidas. Já está definido que técnicos russos e ucranianos integrarão a equipe, assim como especialistas de Holanda e Malásia, países de partida e chegada do MH17. A análise das caixas-pretas do avião será realizada na Inglaterra.

Quem mais saiu perdendo com a queda do MH17?

Evidentemente, os 298 passageiros a bordo do voo da Malaysian Airlines e seus familiares. Contudo, desde a queda do avião, o governo da Ucrânia acirrou os ataques às províncias rebeldes, elevando o número de mortos no conflito definido pela Cruz Vermelha como guerra civil. Somente desde o início de junho, mais de 250 civis foram mortos na região de Lugansk. Seis eram crianças.

Por que a União Europeia não seguiu os Estados Unidos e demora em aplicar novas sanções à Rússia?

Diferentemente dos norte-americanos, os países europeus têm a Rússia como uma grande parceira comercial e alguns deles, casos de Itália e Alemanha, dependem do fornecimento de gás russo. Caso uma nova rodada de sanções seja aprovada, ela deve dividir os países do bloco. Enquanto o Reino Unido lidera o movimento pró-sanções, o governo francês garantiu que vai entregar à Rússia, em outubro, o primeiro de dois navios de guerra contratados por Moscou junto à Mistral em 2011. Outro país preocupado com aprofundar as punições contra os russos é a Alemanha. Segundo membros do governo de Angela Merkel, a situação atual pode diminuir em até 6 milhões de euros o volume de exportações alemãs para a Rússia.

As sanções impostas pelos Estados Unidos à Rússia afetam o comércio entre os dois países?

Não e inclusive as trocas comerciais entre ambos cresceu 16% de janeiro a maio em comparação a igual período de 2013. Todas as sanções até agora aprovadas por Washington atingiram indivíduos e empresas russas que estariam impedidas, por exemplo, de realizar transações financeiras em dólar e teriam bens congelados nos Estados Unidos.

Há risco da queda do MH17 desembocar em um conflito armado entre russos e norte-americanos?

As chances são próximas a zero. Hoje, assim como nos tempos da Guerra Fria, Rússia e Estados Unidos não possuem nenhum interesse em uma guerra direta. É mais provável, porém, que disputas como o da Ucrânia marquem uma polarização ainda mais profunda entre as nações. Já no campo econômico, Washington tende a cerrar mais fileiras ao lado da Europa Ocidental enquanto Moscou deve buscar maior cooperação com China, Índia e, em menor escala, Brasil.

Qual o papel da grande mídia nessa disputa?

Tomando partido de um lado ou de outro, os principais canais de notícias internacionais têm apenas auxiliado na disputa entre russos e o Ocidente. Enquanto BBC e, principalmente, CNN martelam a visão norte-americana sobre a queda do MH17, Russia Today, canal russo alinhado a Putin, busca apontar incongruências no discurso do governo ucraniano e apresentar a versão russa da história.

Pedro Muxfeldt Oliveira

Estudante de Jornalismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente trabalha no Jornal O Dia, do Rio de Janeiro, e é autor do blog Trocando Ideia.

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Pedro Muxfeldt Oliveira

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