10 razões por que Thomas Piketty mudou o jeito como pensamos em desigualdade em 2014

Atualizado em 31 de dezembro de 2014 às 9:52
Thomas Piketty
Thomas Piketty

 

Thomas Piketty é um economista francês nascido em Clichy que tem de estar nas listas de pessoas que fizeram a diferença em 2014.

Tive o privilégio de assistir uma palestra dele na Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP. Depois, ainda no final do mês de novembro, pude conversar pessoalmente com o economista que, com seu inglês afrancesado, me explicou detalhes de suas análises sobre a relação entre concentração e desigualdade.

Eis 10 motivos para compreender a importância de Piketty.

1. Thomas Piketty fez um estudo de mais de 200 anos de história macroeconômica em diferentes países, com contextos distintos, para concluir que a concentração de renda no 1% dos mais ricos pode aumentar a desigualdade social e dificultar a expansão do capitalismo.

2. O livro de seu estudo, “O Capital no Século XXI”, foi lançado na verdade em 2013, mas a obra continua repercutindo tanto na academia quanto no mercado neste ano, o que o trouxe para a Universidade de São Paulo há um mês atrás.

3. Ele é um economista que vai contra a chamada “Escola de Chicago”, um grupo que ganhou notoriedade a partir da década de 70 através de nomes como Milton Friedman. Defensores do livre-mercado, esses pensadores passaram a pregar a diminuição do papel estatal para expansão da propriedade privada. Piketty rema contra essa maré que ainda tem adeptos hoje.

4. Piketty tem simpatia com a esquerda em geral e com o governo petista, mas é compreensivo com uma direita menos radical e mais de centro. Suas teorias afastam extremistas.

5. No caso da economia do Brasil, ele reclamou da falta de taxação das heranças e das poucas mudanças tributárias substanciais desde 1960. O discurso dele vai na linha dos brasileiros que reclamam dos impostos, mas ele aprofunda a  questão.

6. O francês argumenta que existe a necessidade de um aparelho governamental mais eficiente e de uma economia mais inclusiva, diminuindo a margem da pobreza.

7. Isso não significa que Thomas Piketty não veja sucessos da iniciativa privada. Para ele, economias como a americana funcionam bem guiadas por empresas, mas precisam criar medidas para regular o mercado financeiro.

8. Piketty também mostrou que conhece a economia dos países da Escandinávia. Como exemplo de economia com forte presença estatal, o economista afirma que a Suécia mantém um grau alto de desenvolvimento com o chamado Estado de Bem-Estar Social.

9. Apesar de ser acusado de ser esquerdista pela direita, Thomas Piketty critica a “O Capital” original de Karl Marx por acreditar que a geração de capital é infinita. O francês entende que Marx se baseava nas sociedades do começo da Revolução Industrial, mas questiona esse diagnóstico. E Piketty se guia pelos princípios de igualdade da Declaração dos Direitos Humanos e do Cidadão da Revolução Francesa de 1789.

10. O americano Robert Shiller previu a crise financeira internacional em setembro de 2007, quase um ano antes do colapso do Lehman Brothers, e ganhou o prêmio Nobel de economia em 2013. Neste ano, o francês Jean Tirole ganhou o Nobel por sua teoria sobre a necessidade de regulação dos mercados. Piketty é um forte candidato ao Nobel de 2015.