É uma casa de shows pequena, modesta até, mas marcou a história do rock londrino
Vi o filho, mas não o pai. Infelizmente.
Há um ano, eu estava no 100 Club para assistir a uma apresentação de James McCartney, o filho de Paul. O 100 é parte da história do rock londrino. Você vê nas paredes da casa fotos antigas de cantores e bandas tocando e cantando lá.
100 vem do número em que a casa – intimista, na qual cabem 300 pessoas – fica na Oxford Street. Ir lá é um programa altamente recomendável para quem vem a Londres.
James, por volta de 30 anos, lembra fisicamente o pai no rosto. Mas é mais gordo e tem poucos cabelos, o que me levou a suspeitar que Paul tenha feito implante. Em minha ingenuidade, acreditei por muitos anos que os músicos de rock fossem à prova da calvície. Alguns, como Robert Plant ou Jimmy Page, parecem ter mais cabelo aos 60 e poucos do que tinham no apogeu.
É curioso ver uma banda iniciante em que toque o filho de alguém como Paul. Algumas mordomias típicas de gente célebre podem aparecer. Lembro que alguém passava toalhinhas para James McCartney secar o suor.
Não é um som como o de Paul. James faz um rock mais pesado e menos bom que o do pai. Não cantou uma única composição dos Beatles, no que acertou. Em outras circunstâncias, eu provavelmente teria ido embora no meio da apresentação. Esperaria um intervalo e zarparia. Foi o que fez, sem muita cerimônia, a estilista Stella McCartney, irmã de James. Num momento ela estava no 100. No outro sumira.
Era a segunda vez que eu ia ao 100. Na primeira, vira Mick Taylor, ex-Stones. Mick estava enorme, com uma barriga que servia de suporte para a guitarra. No 100 você pode ver os músicos de perto. Todos ali, incluídos eu e alguns dos músicos que acompanhavam Mick, ficaram grudados nele, de olho na mão direita, para ver seus grandes solos.
A sensação que me deu foi que Mick Taylor tem passado, e James McCartney não tem futuro. Tinha ouvido falar num cd que ele estaria preparando, mas não soube de mais nada depois daquela noite no 100.
Perdi Paul lá.
Ele fez o mesmo concerto do Brasil (que também não vi) e do Hyde Park (que vi). Músicas dos Beatles, basicamente, com algumas novidades, como as homenagens a John e George ao cantar A Day In The Life e Something.
Paul foi dar uma mão amiga ao 100, ameaçado de fechar. Os aluguéis no centro ficaram muito mais caros desde os anos dourados do clube. Há um movimento para preservá-lo.
Muitas coisas me encantam em Paul, é claro. A simpatia, a versatilidade, o talento, a voz.
Mas há uma coisa específica que impressiona: o amor que Paul tem pelo que faz. Você que ele está feliz no palco. Faz um, dois bises.
Tenho sempre a sensação de que ele ficaria tocando a noite toda – se a platéia deixasse.
É um grande exemplo que ele lega. Faça aquilo que você gosta de fazer..
Este texto foi publicado no Diário do Centro do Mundo em 17 de dezembro de 2010