5 anos sem Moacyr Scliar. Por Luísa Gadelha

Atualizado em 28 de fevereiro de 2016 às 11:04
Moacyr Scliar (1937 - 2011)
Moacyr Scliar (1937 – 2011)

Se o ano já começou triste com a perda do grande Umberto Eco, hoje, 27 de fevereiro, é dia de relembrar o escritor e médico sanitarista brasileiro Moacyr Scliar, que partiu há exatos cinco anos.

Scliar viveu 73 anos e nesse ínterim publicou mais de setenta livros, desde contos e romances a crônicas e ensaios, além de livros infanto-juvenis, tratando de temas como o judaísmo, o socialismo e a medicina.

Foi membro da Academia Brasileira de Letras e ganhou três prêmios Jabuti, sendo um deles em 2000 pelo livro A mulher que escreveu a Bíblia. Nesse divertidíssimo e criativo romance, uma mulher, com a ajuda de um terapeuta de vidas passadas, descobre que, no século X a.C., foi uma das centenas de esposas do Rei Salomão. Contudo, era tremendamente feia e, por isso mesmo, desprezada pelo poderoso esposo. Porém, a tal moça era inteligentíssima e a única do harém que sabia ler e escrever, tendo sido encarregada de escrever a história do povo judeu.

Outro romance conhecido de Scliar é Max e os felinos, sobre o qual o autor se envolveu numa polêmica com o escritor canadense Yann Martel, que escreveu As Aventuras de Pi. Devido à grande semelhança entre os dois romances, Martel foi acusado de plagiar Scliar. Moacyr Scliar reconheceu a correlação entre os dois romances, mas, à época, declarou não se sentir inclinado a processar Yann Martel – o escritor canadense, por sua vez, disse apenas ter se inspirado na obra de Scliar. As Aventuras de Pi virou filme em 2012, dirigido por Ang Lee, tendo, inclusive, ganhado 4 oscars.

Entre suas obras políticas, destacamos O Exército de um Homem Só, que conta a história de Ginzburg, um imigrante russo judeu, recém chegado ao Brasil, com o sonho de construir uma nova sociedade, socialista, em Porto Alegre. Ginzburg seria o Dom Quixote brasileiro. O livro aponta reflexões sobre o judaísmo e o lugar dos judeus no mundo, a revolução russa e a temática socialismo versus capitalismo.

Já sobre a medicina, Scliar escreveu O Olhar Médico e A Face Oculta, com crônicas sobre o cotidiano médico, também acessível aos leigos. Publicou também Saturno nos Trópicos, uma longa reflexão e pesquisa histórica sobre a melancolia, desde a Antiguidade à contemporaneidade e como o Brasil a herdou dos europeus.

Aventurou-se pela filosofia, com o livro Enigmas da Culpa, em que tece considerações sobre a culpa: de onde ela vem?, por que a sentimos?, quais são as consequências que provêm desse sentimento?, o que é a culpa para a psicanálise?

Escreveu ainda uma releitura do conto O Alienista, de Machado de Assis, destinado ao público infanto-juvenil, sob o título de O Mistério da Casa Verde.

Como podemos observar, é bem difícil resumir a obra de Scliar, ou reduzi-lo a um determinado tema. Com interesse em tantas áreas distintas, o escritor agradou um público variado, apesar de, ainda assim, não ser tão conhecido nem disseminado em nosso país. Certamente foi uma grande perda, cuja obra merece ser relembrada.

Luísa Gadelha
Luísa é graduada e mestra em Letras, graduanda em Filosofia, ama literatura desde sempre e quadrinhos há alguns anos, tem preferência por romances (longos), sejam clássicos ou contemporâneos e se esforça - ou nem tanto - para ler mais poesia. Isso quando não está vendo séries.