17 de junho de 2013: o ensaio geral para coisas melhores

Atualizado em 18 de junho de 2013 às 13:55

Um dia que deve ser enxergado como uma simulação de incêndio.

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Não foram os R$ 0,20. (Mas a moeda de 20 centavos, se existisse, teria a forma da gota d’água). Não foram os estádios da Copa. Não foi a política econômica mais preocupada com indicadores macro do que com as promessas de um país mais igualitário.

Não foi só isso.

Vejo o 17 de junho de 2013 como uma espécie de simulação de incêndio. Quem já trabalhou em edifícios bem altos sabe como funciona. Toca uma sirene e começa o exercício.

Sempre me senti um pouco idiota antes de abandonar a mesa cheia de trabalho para serpentear pelas escadas sujas. Mas, lá embaixo, você entende.

Um dia, vai ser para valer.

O brasileiro, inspirado pela truculência da PM de São Paulo no dia 13 de junho (truculência esta registrada por jornalistas não raro castigados por balas de borracha e gás tóxico), percebeu que precisava saber se é capaz de se organizar contra abusos.

Abusos. Provocações. Desrespeitos. Fomos ou não fomos desrespeitados sistematicamente desde a última vez que o povo tomou as ruas? O país prosperou. Mas o que é passar 4 horas dentro de veículos diariamente para poder trabalhar?

O que é pagar caro para ter acesso a serviços básicos como saúde ou educação com o mínimo de qualidade? O que é ver figuras tétricas, múmias das catacumbas mais profundas instalados nas cadeiras mais altas do nosso Congresso Nacional?

A presidente Dilma divulgou uma nota, uma nota singela em sua falta de conteúdo. “As manifestações pacíficas são legítimas e próprias da democracia. É próprio dos jovens se manifestarem”, afirmou.

Não foram só os jovens. A mãe de um amigo, advogada na casa dos 50 anos, sem histórico de militância, marcou com as amigas uma visita à manifestação de São Paulo como se fosse a coisa mais natural do mundo. Queria ver, queria sentir os novos ventos mais de perto.

E o que custou colocar 220 mil pessoas pacificamente nas ruas, nossas ruas? A internet. Não houve grande mídia, não houve grande conglomerado, não houve big money capaz de interferir. Aconteceu. Gente brotou do chão.

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Os protestos de hoje, em todo o país, significam apenas uma coisa: a democracia, seja você um poderoso do universo público ou privado, é um acordo negociado caso a caso.

O voto no político não significa que rubricamos seus documentos, leis e contratos ao lado da sua assinatura. Queremos ler antes. Se não concordarmos, não vamos assinar.

E vamos deixar bem claro quando não concordamos. Porque agora a gente já sabe que basta abrir a porta de casa e ir para um mesmo lugar num horário combinado. Parafraseando Dylan Thomas: Vamos gentilmente nessa boa noite escura.

Vocês, que estão pensando apenas na saúde do próprio rabo, vão se surpreender com a quantidade de gente que vai aparecer.