2016 foi o ano da hipocrisia; 2017, o da revelação. Que venha 2018, o ano do resgate. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 31 de dezembro de 2017 às 11:11

Aécio pela fresta da janela, assustado: a imagem que define 2017. E, acima, com Moro, triunfantes depois do golpe: a imagem que define 2016

Se 2016 pode ser considerado o ano da hipocrisia, 2017 entrará para a história do Brasil como ano da revelação.

Os moralistas sem moral que em 2016 derrubaram uma presidente honesta foram flagrados em 2017 em atos de corrupção.

Aécio Neves e Michel Temer são os principais exemplos, mas há outros. Eles encerraram 2016 com um discurso de que estavam combatendo os corruptos.

Na virada do ano, Temer ensaiava uma campanha ridícula, com o slogan “Fora, Ladrão”.

E Aécio era articulista de grandes jornais, como a Folha de S. Paulo, e se permitia, entre outras coisas, escrever:

O Brasil é hoje o resultado de uma combinação perversa de gestões marcadas pelo descalabro, pela irresponsabilidade e pela corrupção. Apenas com uma grande união nacional haverá chance de virarmos definitivamente esta página lamentável da nossa história.

O artigo saiu no último dia de 2016, em O Estado de Minas, como um balanço do ano que se encerrava.

Cinco meses depois, vieram a público as imagens do primo dele, seu homem de confiança – que ele admite poder matar antes de fazer delação —, carregando malas do dinheiro que havia pedido ao dono da JBS.

E ainda a gravação da conversa em que apresenta seu poder de influência no governo federal e no Congresso ao mesmo tempo em que acerta o recebimento de 2 milhões de reais.

Como disse o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, em entrevista à BBC:

“Há 650 mil pessoas presas no sistema penitenciário brasileiro. Poucas pessoas estão presas com tantas provas como havia neste caso.”

Aécio se livrou da cadeia e de outras medidas cautelares, recuperou o mandato no Senado, graças à influência de que ainda desfruta no STF, onde Barroso foi voto vencido, mas para sempre será visto com o carimbo que tentou colocar em Dilma:

CORRUPTO.

Duas imagens definem os dois momentos, os dois anos. Em 2016, Aécio aparece sorridente, na conversa ao pé de ouvido com o juiz Sergio Moro.

Em 2017, no período em que não podia sair de casa à noite, ele é visto por uma fresta da janela.

Este é o Aécio de verdade, revelado agora.

Temer teve o mesmo destino e também se livrou graças ao poder que mantém na Câmara dos Deputados.

Ao mesmo tempo em que os articuladores do golpe eram desmascarados, a opinião pública começou a mudar.

Não apenas pelas provas de corrupção, mas, principalmente, pelos resultados nefastos do golpe na vida das pessoas.

O Datafolha mostrou o espetacular crescimento das intenções de voto em Lula, hoje na casa dos 35%, e a recuperação da imagem do PT, que tinha aprovação de 9% e hoje tem 21%.

 Mudança de cenário que também foi detectada pela pesquisa da Ipsos, divulgada pelo jornal O Estado de S Paulo.

Sobre a imagem de figuras públicas, constatou a Ipsos:

Em cinco meses, a aprovação de Lula subiu de 28 para 45%, enquanto a de todos os outros pesquisados caiu, inclusive a do juiz Sergio Moro.

No último levantamento, feito com 1.200 pessoas entre 1o. e 12 de dezembro, Moro teve pela primeira vez mais desaprovação do que aprovação. Sua taxa negativa subiu para 53%. A positiva caiu para 40%.

Moro já é criticado publicamente, sem que hordas de fanáticos se levantem.

Sua mulher, Rosângela, anunciou o fim da página na rede social destinada a idolatrar o marido, e houve relativamente poucos lamentos.

Anúncio feito no mesmo dia em que um advogado que não se rendeu à Lava Jato, Rodrigo Tacla Durán, disse em depoimento à CPI da JBS que um amigo do casal havia lhe tentando vender facilidade em acordo de delação premiada.

2017 foi, definitivamente, o ano da revelação.

Os ventos mudaram.

2018 tem tudo para ser o tempo do resgate. O tempo de recuperar aquilo que, na mão grande, foi tirado do povo: a soberania.

Será um ano duro, de lutas, a começar pelo julgamento de Lula, no dia 24 de janeiro.

Mas quem disse que o avanço popular é fácil?

.x.x.x.x.

João Doria começou o ano como a grande aposta da direita. Tomou posse da prefeitura já como pré-candidato a presidente. A rigor, nunca foi prefeito, no sentido de gestor, e como candidato se tornou pó, farinha, farinata, Por isso, é citado no rodapé do artigo, no lugar que lhe cabe.