2016, o ano em que Fagner transformou-se no Lobão da MPB. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 26 de dezembro de 2016 às 11:57
Eles
Eles

 

2016 foi o ano da metamorfose de Raimundo Fagner no Lobão da MPB.

Com uma vantagem competitiva: enquanto o velho roqueiro lelé permanece uma figura pouco confiável, dados seu destempero, sua histeria e mesmo sua figura, Fagner descobriu um caminho mais suave para faturar com a onda direitista.

Virou papagaio de pirata de Sérgio Moro. Algo fronteiriço a amigo, na medida em que vai desaparecer assim que o juiz tiver terminado sua missão.

A aproximação começou em 2015, quando Fagner fez uma canção em homenagem a Moro, esse “grande brasileiro que ele está se revelando, a sua competência e a sua coragem”.

Um verso fala que “quem tem tudo na mão não corre atrás”. No vídeo caseiro, o menestrel agradece: “Parabéns por você existir nesse país difícil de aturar, mas você existe. Falou, parceirão, grande abraço”.

Os dois haviam se encontrado no prêmio “Você faz diferença”, do jornal O Globo, na noite de 18 de março, quando Moro recebeu o trofeu de “personalidade do ano”.

Como no final de Casblanca, foi o início de uma bela amizade.

Desde então, houve momentos inesquecíveis. Entre eles, um show em que Moro foi aclamado (no vídeo abaixo) e um encontro numa churrascaria de Curitiba (Joaquim de Carvalho fez uma impecável radiografia desse encontro no DCM).

Na ocasião, no meio dos convivas, Fagner dedicou-lhe a insuportável “Guerreiro Menino”, do chato Gonzaguinha, imortalizada na voz cheia daquelas gorgolejadas do cearense. “Guerreiros são pessoas/ São fortes, são frágeis/ Guerreiros são meninos/ No fundo do peito”.

E então aquele refrão: “Não dá pra ser feliz/ Não dá pra ser feliz…” Moro ouve com um ar circunspecto, copinho de cerveja ou chope na mão.

Fagner também esteve em Curitiba num grupo do qual faziam parte intelectuais como Suzana Vieira, Lucinha Lins, Victor Fasano, Luana Piovani e um sujeito que participou de Casa dos Artistas.

A militância não é novidade. Já apoiou Lula (em 1989), Tasso Jereissati, Marina (em 2010). Em 2014, foi de Aécio Neves. “Não defendo partidos e não fico em cima do muro”, disse ele.

Fagner declarou que conhecia a “trajetória” de Aécio. Hoje o megadelatado Aécio não recebe mais mensagens de WhatsApp do cabo eleitoral.

Foi um longo caminho. Fagner tornou-se conhecido em 1978 com o disco “Eu Canto”, que tinha uma bonita versão de “Jura Secreta” e outra de “As Rosas Não Falam”.

Estourou com “Noturno”, de 1980, tema da novela “Coração Alado” e virou ídolo nacional com a detestável “Borbulhas de Amor”, que ganhou nas redes uma releitura denominada “Borbulhas de Amoro”.

Não merecia um fim desses — olhar no espelho e enxergar o Lobão —, mas como diria sua avó é um homem feito e vacinado.

“A nova geração precisa estudar a história do movimento artístico e entender o que as figuras que estiveram envolvidas naquela época pensam hoje. A gente sente falta de caras novas e dá até impressão que o nosso discurso é velho demais. Mas ele é cada vez mais atual e precisa de reforço”, disse Fagner.

Em seu caso, e no de tantos outros, as novas gerações ganhariam muito mais conhecendo sua obra através das músicas e não de sua sabujice com os salvadores da pátria de plantão.