Fábrica no Rio Grande do Sul tem explosão de casos de covid-19 e governo não fiscaliza

Atualizado em 31 de julho de 2020 às 12:06

PUBLICADO NO COLETIVO CATARSE

POR BRUNO PEDROTTI

Entre os dias 17 e 24 de julho, foram confirmados 8 casos de Covid na empresa Perto, em Gravataí. Outros 23 trabalhadores foram afastados por suspeita de contaminação. Grupo sindical de oposição denuncia: “as medidas que a empresa tomou tem sido insuficientes para evitar a contaminação por COVID 19 na fábrica”.

J (que preferiu não revelar sua identidade) faz parte da Oposição Sindical, que vem acompanhando a situação. Segundo seu relato, alguns trabalhadores começaram a apresentar sintomas no dia 17. A empresa não faz testagem e os trabalhadores não tem condições de pagar testes particulares, então tiveram de aguardar a testagem pelo SUS. Enquanto isso, seguiram trabalhando e a contaminação aumentou.

O grupo sindical defende que a Perto e outras metalúrgicas paguem a testagem dos seus funcionários: “esses trabalhadores do ramo metalúrgico estão trabalhando em plena pandemia por responsabilidade das empresas nesse período. Então, é de responsabilidade delas o que vier a ocorrer com os trabalhadores”.

J denuncia ainda que a empresa já havia sido alertada dos riscos quando retomou suas atividades (no final de abril), após aproximadamente um mês de fechamento em virtude da pandemia. “a gente já denunciou que as condições de cerca de mil e duzentos trabalhadores confinados daquela forma – em galpões sem arejar, trabalhando na linha de produção, passando peças de mão em mão – só poderia dar nisso”, recorda.

Apesar do afastamento dos trabalhadores contaminados, a Oposição Sindical apontou diversas falhas nas medidas sanitárias adotadas pela empresa. O grupo entende que a empresa deveria ter fechado por pelo menos 14 dias para higienização. Também criticam aglomerações nos ônibus, nas catracas, na revista, nos relógios ponto. “Tive uma informação com um dos trabalhadores de que a única coisa que a empresa fez foi a partir de hoje [29/07], qualquer trabalhador que tiver algum sintoma de Corona vírus será afastado sem necessidade de atestado” Denuncia J.

Para enfrentar a situação, a Oposição sindical realizou uma panfletagem em frente a fábrica da Perto em Gravataí nesta quinta feira (30/07). Além disso, também levaram as denúncias a Vigilância Epidemiológica e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Gravataí na sexta feira dia 24/07. O grupo também enviou documento ao Ministério Público do Trabalho.

Demissões e represálias

De acordo com a Oposição Sindical, os trabalhadores não temem apenas o contágio, mas também as demissões em massa. J denuncia que a empresa demitiu 60 trabalhadores no mês de março e 200 no mês de abril. “ Ela adotou, no início desse ano, contratos temporários, o que permitiu a ela usar dos trabalhadores com um salário base de 1200 [reais] sem nenhum direito. Como a reforma trabalhista permite contratos temporários, ela demitiu esses 60 trabalhadores e depois mais 200 em abril”, conclui.

Vistoria agendada

A reportagem entrou em contato com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Gravataí para verificar se foi realizada vistoria na sede da empresa. De acordo com Victor Johnson – Secretário da SMDET – ainda não foi realizada a vistoria na Perto, já que existem outras empresas na frente. A estimativa do órgão é de conseguir fazer a fiscalização na próxima semana.

Victor explicou que o órgão está organizando uma ação fiscal junto da Vigilância em Saúde do município com o objetivo de verificar se as determinações do Decreto Municipal estão sendo devidamente aplicadas no Plano de Contingência da empresa. Sobre o caso da Perto, declarou: “a Indústria Perto setor de Epidemio está em contato direto com o Médico do Trabalho monitorando todos os colaboradores infectados e os que estão na ativa, controlando a execução do plano de ação”.

A empresa

A Perto é uma metalúrgica do grupo canadense Digicon. Possui fábricas em diversos locais do mundo como Índia e Brasil. Produz caixas eletrônicos para bancos de todo o Brasil e para exportação. Na fábrica de Gravataí fabricam-se também sinaleiras, parquímetros, roletas para ônibus, leitores de cartão de crédito, entre outros.

A empresa foi contatada para uma entrevista remota. Porém, até o fechamento da reportagem, não obtivemos resposta. Enquanto aguardávamos o posicionamento da empresa, J nos avisou que, na noite de quinta feira (30/07), recebeu um comunicado de um trabalhador informando que mais três colegas testaram positivo para Covid 19.