30% + 30% + 30%: como era o esquema de venda de emendas ligado à assessora de Valéria Bolsonaro

Atualizado em 25 de outubro de 2025 às 12:20
Valéria Bolsonaro é deputada estadual licenciada e secretária de Políticas para a Mulher do governo Tarcísio de Freitas Imagem: arquivo pessoal

Áudios de WhatsApp obtidos pelo Metrópoles revelam como funcionava o esquema de devolução de parte de emendas parlamentares negociado por Amanda Servidoni, filiada ao PL em Rio Claro (SP). Nas gravações, ela aparece pedindo R$ 100 mil de volta de uma emenda de R$ 300 mil, quantia que teria sido destinada a uma prefeitura do interior. “Ele vai gastar 100k com a pista. E nós estamos dando 300. Desses 300 eu quero pelo menos uns 100. Não quero 10%, filho”, diz Amanda em um dos trechos.

Amanda se apresenta como “assessora” da deputada estadual licenciada Valéria Bolsonaro (PL), hoje secretária de Políticas para a Mulher do governo Tarcísio de Freitas, embora não ocupe cargo na pasta. Ex-chefe de gabinete do vice-prefeito de Rio Claro e presidente do projeto social “Mulheres pela Fé” — apadrinhado por Valéria —, ela é apontada por interlocutores como intermediária de emendas entre prefeituras e parlamentares. A secretária inaugurou recentemente um escritório político no mesmo endereço da entidade presidida por Amanda.

Nas conversas, a filiada ao PL fala em receber valores maiores do que o tradicional “10%” e menciona que o repasse de R$ 100 mil seria “para abrir portas” em outras cidades. “Ele já vai ganhar 100 que vai executar e 100 que vai vir de lambuja. Mas nada certo ele fazer isso para abrir as portas”, afirma em outro trecho. A interlocução cita prefeitos, deputados e articulações para liberação de verbas, embora sem nomes explícitos. Questionada, Amanda reconheceu ser autora dos áudios, mas alegou que tratava de “projetos”, não de emendas parlamentares.

A Secretaria de Políticas para a Mulher afirmou que o caso não tem relação com a pasta e que emendas são de responsabilidade da Assembleia Legislativa e das prefeituras. O assessor jurídico de Valéria, Eduardo dos Santos, classificou Amanda como “assessora regional”, reconhecendo a relação formal entre Amanda e Valéria, mas ressaltando que a relação entre ambas é apenas de apoio político e amizade. Valéria Bolsonaro, até o momento, não se manifestou.

Valéria e o ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: reprodução

As Emendas

A venda de emendas parlamentares é uma prática ilegal que ocorre quando políticos ou intermediários negociam a liberação de verbas públicas em troca de vantagens pessoais. Essas emendas são recursos do Orçamento da União ou dos estados, destinados a projetos municipais como obras e equipamentos. No esquema, parte do valor é desviada por meio de superfaturamento, empresas de fachada ou pedidos diretos de “devolução” em dinheiro. Em alguns casos, assessores e operadores políticos atuam como ponte entre prefeitos e parlamentares. O modelo se intensificou com as chamadas “emendas Pix”, que transferem recursos diretamente aos cofres das prefeituras, sem detalhamento de gasto. Isso dificulta o controle e aumenta o risco de corrupção. Investigações recentes da Polícia Federal e do Ministério Público identificaram redes organizadas em vários estados. A falta de transparência e de fiscalização efetiva facilita a continuidade do esquema. A prática compromete políticas públicas e desvia milhões de reais dos serviços essenciais.

Jose Cassio
JC é jornalista com formação política pela Escola de Governo de São Paulo