
Quase 30 organizações de direitos humanos e coletivos da sociedade civil divulgaram, nesta terça-feira (28), uma nota conjunta em que classificam a Operação Contenção, realizada nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, como uma “matança produzida pelo Estado brasileiro”, conforme informações da colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo.
A ação, considerada a mais letal da história do estado, deixou 64 mortos, incluindo quatro policiais.
O documento responsabiliza diretamente o governador Cláudio Castro (PL), afirmando que ele “detém o título de responsável por quatro das cinco operações mais letais da história do Rio de Janeiro”. As entidades acusam o governo de “premiar o confronto e a morte”, transformando comunidades em “campos de batalha, onde moradores são tratados como inimigos internos”.
Entre as signatárias estão Anistia Internacional Brasil, Justiça Global, Conectas Direitos Humanos, Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), CEJIL, Instituto Papo Reto, Redes da Maré, ISER, Observatório de Favelas, Instituto Sou da Paz, Rede Justiça Criminal, Casa Fluminense e Frente Estadual pelo Desencarceramento, entre outras.
As organizações afirmam que a operação “expõe o fracasso e a violência estrutural da política de segurança pública” e “coloca a cidade em estado de terror”.
Críticas à política de segurança e à “guerra às drogas”
O texto denuncia tentativas do governo de enfraquecer mecanismos de controle policial, como a ADPF das Favelas, que estabelece limites para operações em comunidades, e a ADPF 976, que buscava reforçar obrigações de planejamento e preservação de vidas.
As entidades também citam alertas da ONU e da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) sobre o caráter racista e discriminatório da política de “guerra às drogas” adotada pelo estado. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), 5.421 jovens de até 29 anos foram mortos em intervenções policiais nos últimos dez anos.
“O que se testemunha hoje é o colapso de qualquer compromisso com a legalidade e os direitos humanos”, diz a nota. “A segurança pública deve garantir direitos, não violá-los. As moradoras e os moradores das favelas têm direito à vida, à integridade física e à paz — e isso não é negociável.”
Cenário de horror após a operação
As vítimas foram encontradas em uma área de mata entre os complexos da Penha e do Alemão, na Serra da Misericórdia, onde se concentraram os tiroteios entre policiais e criminosos do Comando Vermelho.
Relatos de moradores indicam que ainda há mortos no alto do morro e que o número de vítimas pode ser maior do que o divulgado pelas autoridades.
ATENÇÃO: IMAGENS FORTES 🔴
Moradores levam ao menos 50 corpos para praça no Complexo da Penha após operação mais letal do Rio
A reportagem do Estadão tentou contato com a Polícia Militar e a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, mas não obteve retorno pic.twitter.com/dNSEgEtIVf
— Estadão 🗞️ (@Estadao) October 29, 2025