#3JForaBolsonaro: Com desgaste de Bolsonaro na CPI, frentes antecipam manifestações para julho

Atualizado em 26 de junho de 2021 às 21:17
As ruas foram pintadas com as cores da esquerda, mas há nuances entre os 50 tons de vermelho – Pedro Rocha/Sintufrj

Originalmente publicado em BRASIL DE FATO 

Por Murilo Pajolla

Em reunião na tarde deste sábado (26), a Frente Fora Bolsonaro definiu como data para novas manifestações pelo país o 3 de julho. A entrega do pedido de impeachment unificado ficou definida para a próxima quarta-feira (1) em Brasília.

A construção de unidade é um desafio permanente no horizonte político da esquerda brasileira. Consequência da unificação de setores que nem sempre atuaram em parceria, as manifestações de 29 de maio e 19 de junho significaram um passo importante nessa direção.

Os movimentos populares envolvidos na nova manifestação deliberaram a princípio uma nova mobilização para o 24 de julho, com um “esquenta” para o dia 13 de julho, feita “por fora” do ato unificado do dia 24 de julho, ainda sem hora definida.

Mas o desgaste do presidente Jair Bolsonaro, com as últimas revelações feitas pela CPI da Covid nesta sexta-feira (25) acelerou o processo e houve unidade entre as correntes para que a nova manifestação aconteça já no próximo sábado (3).

Quem são os atores políticos

O “esquenta” para o 13 de julho havia sido convocado pelo perfil nas redes sociais intitulado “Povo na rua #Fora Bolsonaro”, coordenada pela Unidade Popular Socialista (UP), sem participação da articulação nacional formada pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular.

Aglutinando partidos e correntes de menor alcance nacional, a articulação “Povo na rua #Fora Bolsonaro” é coordenada pela Unidade Popular pelo Socialista (UP), braço eleitoral do Partido Comunista Revolucionário (PCR), que não tem registro no Tribunal Superior Eleitoral.

Com um programa político de perspectivas revolucionárias, a UP lançou 100 candidatos a vereador e 15 a prefeito, mas nenhum foi eleito. A agremiação é liderada por Leonardo Péricles, que foi candidato à vice-prefeito de Belo Horizonte em uma chapa encabeçada pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol). Ele aceitou o pedido de entrevista do Brasil de Fato, mas não havia respondido as perguntas até a publicação desta reportagem.

A “Povo na rua #Fora Bolsonaro” conta ainda com apoio de correntes trotskistas regionais, entre elas o Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT) e o Movimento Esquerda Socialista (MES), que integra o Psol. Também participam integrantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e do Partido Socialista de Trabalhadores Unificado (PSTU).

Do outro lado, a plenária da “Campanha Fora Bolsonaro” é a articulação mais relevante, do ponto de vista nacional, na convocação dos protestos massivos deste ano. Ela é composta pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, que congregam os maiores partidos políticos e centrais sindicais.

“A unidade desse conjunto é que tem sido capaz de apontar um caminho para a derrota de Bolsonaro”, afirma o membro da Frente Povo Sem Medo e secretário geral da Intersindical, Edson Carneiro Índio, referindo-se à Campanha Fora Bolsonaro.

“Nesse aspecto, acho que o [chamado para atos] dia 13 de julho precisa ter um certo cuidado pra não romper a unidade construída até aqui”, conclui, ressaltando que trata-se de uma avaliação de caráter individual.

Sem “racha” 

A data do “esquenta” foi definida em uma assembleia virtual realizada na última quarta-feira (23). Segundo divulgou o perfil “Povo na rua #Fora Bolsonaro”, 12 mil pessoas participaram do encontro. Na convocação, o perfil deixa claro que não há intenção de “rachar” as mobilizações em curso.

“O objetivo é fortalecer a convocação do ato unificado pela derrubada do governo Bolsonaro dia 24 de Julho. A ação do dia 13 será levada como contribuição e proposta para a plenária da Campanha Fora Bolsonaro, visando a unidade da luta contra o governo”, lê-se na postagem.

Manifestantes têm pressa

O “esquenta” do dia 13 de julho é apoiado por quem acha que é preciso voltar às ruas dentro de um prazo mais curto. “O 24 de julho é um ato daqui a mais de um mês. E a data foi divulgada sem um calendário de lutas”, analisa o professor, militante do PCB e influenciador digital Jones Manoel.

“Por isso houve uma impressão de que era uma estratégia de desmobilização. As justificativas para não colocar os atos nos dias 10 e 17 [de julho] são, no mínimo, complicadas. Não pega bem”, analisa Jones.

Nas palavras de Jones, a data de 24 de julho saiu de uma “reunião de cúpula” da Campanha Fora Bolsonaro, quando poderia ter sido tomada pela plenária da articulação, marcada para 1º de julho.

“É um negócio muito obscuro”, opina o militante. “Também é muito infeliz isso ser divulgado pelas mídia de massa burguesas e não pelas mídias de esquerda”.

“Mobilização não vai esfriar” 

Edson Carneiro Índio, da Frente Povo Sem Medo, defende o intervalo de um mês entre as manifestações como forma de “dar tempo para decantar a disputa política no país e para observar o desenvolvimento da pandemia”. “Não acredito que vai esfriar a mobilização do dia 24 em função dessa data estar mais distante”, avalia.

Para ele, o calendário de mobilização, considerado estratégico por Jones Manoel, já está parcialmente definido, com atos regionais, lives, a entrega do “superpedido” de impeachment contra Jair Bolsonaro e um dia nacional de lutas a ser definido pelas centrais sindicais. Mas será complementado por ações a serem debatidas na plenária da “Campanha Fora Bolsonaro”.

“É fundamental também lembrar da importância de dialogar nas periferias da cidade, com som, lembrar da carestia, do preço do botijão, da energia, do desemprego, da necessidade do auxílio de R$ 600 contra essa miséria desse auxilio de 250 que sequer compra um terço de uma cesta básica”, completa.